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A cana ficou pelo caminho

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Nos últimos 12 anos, a empresa de energia Raízen, uma sociedade entre a Cosan e a Shell, investiu 2 bilhões de reais na instalação de equipamentos para gerar energia com a queima do bagaço de cana em 13 de suas 24 usinas de açúcar e etanol. A empresa tem hoje um parque gerador de 940 megawatts, o suficiente para abastecer uma cidade com duas vezes a população de Belo Horizonte. Os tempos de expansão, no entanto, ficaram para trás. “Em 2013, concluímos projetos que estavam em andamento e suspendemos novos investimentos em energia”, diz Pedro Mizutani, vice-presidente de açúcar, etanol e bioenergia da Raízen. “Tínhamos planos de aplicar 1,7 bilhão de reais para aumentar nossa capacidade em 40%. Isso vai ficar na gaveta.”

O caso da Raízen é um exemplo da frustração que se abateu sobre os projetos de geração de energia da cana. Um estudo realizado há seis anos pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entidade que congrega as usinas, estimava que, ao final de 2014, o setor teria uma capacidade de geração de 14 000 megawatts, o equivalente a uma hidrelétrica de Itaipu. Hoje, as usinas de açúcar e etanol têm capacidade para gerar, juntas, 9 300 megawatts. E como se 70% da “Itaipu de cana” tivesse sido construída. Mas sua contribuição ainda é pequena. Em 2013, as termelétricas de bagaço geraram 35% menos do que o previsto no planejamento para o setor elétrico elaborado pelo governo. “A maioria produz menos energia do que poderia”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “O bagaço de cana é hoje uma fonte muito mal aproveitada.”

A falta de interesse na energia da cana pode parecer um contrassenso num momento em que o Brasil vive um cenário de escassez. Os reservatórios das hidrelétricas estão nos níveis mais baixos desde 2001, quando houve racionamento. Por isso o governo põe em operação praticamente constante as termelétricas a gás e a óleo, mais caras e poluentes, cuja função deveria ser atender à demanda apenas em momentos de emergência. Um dos entraves à expansão da energia do bagaço de cana é a crise que as empresas de açúcar e álcool atravessam — provocada pela política de controle de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras, o que retirou competitividade do etanol. Desde 2007, 58 usinas pediram recuperação judicial — seis delas neste ano. De acordo com a consultoria MBF Agribusiness, 60% das usinas hoje têm dívidas que superam o faturamento anual.

Para deixar a o bagaço de cana atrativo, os usineiros pedem mudanças nos leilões de energia. Neles, ganha quem oferece o menor preço por megawatt, e nisso o bagaço está em desvantagem. Gerar energia de biomassa sai quase 40% mais caro do que numa central eólica. Mas há uma diferença importante. Boa parte da energia dos ventos é produzida na Região Nordeste. E 85% das usinas de açúcar e etanol estão no centro-sul, onde se consome 60% da energia do país. A proximidade diminuiria os custos de transmissão em até 30 reais o megawatt-hora. “Se isso fosse levado em conta nos leilões, a energia elétrica gerada com a cana voltaria a atrair investimentos”, diz Elizabeth Farina, presidente da Unica.

(Fonte: Revista Exame – Texto extraído do Portal Unica)

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