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Brasileiro é 1º eliminado em disputa na OMC

O embaixador brasileiro Luiz Felipe de Seixas Corrêa foi eliminado ontem da disputa pelo cargo de diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). Foi uma das maiores derrotas da política externa do atual governo, que tenta se inserir como uma liderança no cenário internacional e pleiteia também um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se disse “decepcionado”, mas afirmou que o governo não pretende contestar o resultado. Ele criticou o que chamou de “falta de transparência” da OMC, que não divulgou os votos obtidos por Seixas Corrêa. Mas Amorim também não quis revelar qual será o candidato que o governo brasileiro vai apoiar. “O voto é sigiloso. Ainda é muito cedo para falar nisso.”

Presidente do Conselho Geral do organismo multilateral de comércio, a embaixadora queniana Amina Mohamed informou à representação do Brasil em Genebra, ainda na quinta-feira à noite, que Seixas Corrêa deveria retirar sua candidatura por ter sido, entre os quatro candidatos, o que obteve menos apoio dos 148 países-membros consultados na primeira rodada, explicou Amorim.

Continuam na disputa o ex-comissário de Comércio da União Européia, o francês Pascal Lamy, apoiado por EUA e União Européia, o diplomata uruguaio Carlos Pérez del Castillo e o chanceler das Ilhas Maurício, Jaya Krishna Cuttaree. Na semana que vem, outro candidato deverá ser eliminado. Até o fim do mês, a OMC vai divulgar o vencedor.

“Eu não diria que foi uma surpresa, mas foi decepcionante, principalmente porque não houve uma fundamentação clara. Preocupa-nos o fato de que não houve informação sobre números. Não há uma urna, portanto não sabemos por quantos votos ele foi eliminado”, disse Amorim.

Embora decepcionado com os critérios, Amorim reforçou que não pretende contestar o resultado. “Perdemos o jogo. Agora não adianta dizer que o juiz não apitou o pênalti ou que o gol estava impedido”, afirmou.

Contrariado, ele insinuou que o candidato brasileiro foi eliminado por ser forte. “Todos sabiam que uma final com o Seixas Corrêa seria muito forte e, mesmo sabendo disso, não divulgaram os números.” O sigilo com relação aos votos e o resultado das consultas feitas pelo Conselho Geral é praxe na OMC. “Lamentamos que isso tenha acontecido não só pelas qualidades profissionais do candidato mas também pelo fato de o Brasil ter dado contribuições importantes para o avanço da Rodada Doha”, disse o chanceler.

Na última reunião da OMC, em 2003 em Cancún, o Brasil liderou países emergentes contra posições dos países ricos e foi essencial para a formação do G20, grupo de países em desenvolvimento como Índia e África do Sul.

Amorim disse ainda que o governo não ignorava as dificuldades da disputa, inclusive da América Latina. “Muitos países já haviam se comprometido com a candidatura uruguaia. Mas o perfil dessas candidaturas não correspondia ao que achávamos necessário para conduzir a Rodada Doha”, disse.

Com a derrota de Seixas Corrêa, o governo ficou em uma situação delicada. Por isso, segundo a Folha apurou, quer evitar divulgar quem vai apoiar. A candidatura Seixas Corrêa foi lançada para neutralizar o candidato uruguaio. O governo avalia que Castillo considerou mais as posições dos países ricos do que as dos em desenvolvimento, ao redigir o documento final da encontro de Cancún, que acabou em desacordo.

Recentemente, Amorim reagiu com dureza a declarações de Lamy com relação à Amazônia. O candidato francês defendeu a internacionalização das florestas tropicais. “Tais declarações são incompatíveis com o cargo de diretor-geral da OMC”, disse o ministro em nota.

O governo considera o candidato africano o mais fraco tecnicamente, além de identificá-los com posições de interesses exclusivos das ex-colônias da União Européia, que possuem acesso privilegiado àquele mercado.

Investimento perdido

O governo brasileiro investiu um forte capital diplomático na disputa na OMC, uma das principais aspirações da atual política externa. Desde o ano passado, Amorim fez várias viagens a países africanos e caribenhos onde pediu apoio a Seixas Corrêa. Em cada país, Amorim empenhou-se em assinar acordos de cooperação, sobretudo para a transferência de tecnologia para a produção de etanol, como forma de dar destino ao açúcar que esses países deixarão de exportar à União Européia, com o fim das preferências a esse mercado, conforme defende o Brasil na Rodada Doha.

O Itamaraty considerava a liderança do Brasil no G20 uma vantagem na disputa pela direção da OMC. Por outro lado, admitia problemas no fato de haver outra candidatura latino-americana e por defender posições na OMC que ferem os interesses de vários países africanos, o que teria enfraquecido seu candidato.