Em algum momento na década de 70, Antonio Iafelice conversava com um ministro chinês em Pequim quando percebeu que já estava atrasado para pegar um avião. O ministro notou a preocupação e tranqüilizou-o. A aeronave não levantaria vôo sem o brasileiro. E, apesar do atraso do executivo, de fato o avião não partiu sem ele.
O paulistano Iafelice lembra o ocorrido para justificar que desde aquela época já conhece a Ásia. Em 1978, negociou o primeiro embarque FOB de soja brasileira para a China; em 1967, já fazia transações com o Japão. Hoje, depois de ter trabalhado no Grupo Zilo Lorenzetti e na Ceval Internacional (depois comprada pela Bunge), entre outras empresas, e de ter participado da criação da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), em 1981, Iafelice tem novamente no mercado asiático uma frente de expansão de negócios. Uma das frentes no foco do Grupo Agrenco, fundado pelo executivo em 1992, e por ele presidido, nas sedes brasileira e francesa.
Segundo Iafelice, o grupo acaba de fechar, após quatro anos de negociações, um contrato com a poderosa estatal China Grains & Oils que viabilizará, inicialmente, embarques entre 200 mil e 500 mil toneladas de soja por ano para aquele país, volume “experimental” que ele espera que aumente com o passar do tempo. Também na Ásia, a Agrenco acertou uma parceria com a Marubeni para vender o grão no Japão e na Coréia do Sul, onde já tem outros clientes.
Os novos contratos reforçam o otimismo do executivo em relação a 2005, quando espera que o faturamento “direto” do grupo alcance US$ 600 milhões, ante os US$ 415 milhões do ano passado. De acordo com Iafelice, o faturamento “direto” reflete os negócios nos quais a Agrenco acompanha e garante a qualidade da carga a ser vendida desde a lavoura até o cliente final. Somado o faturamento “indireto”, proveniente de negócios de risco compartilhado com parceiros, as vendas da Agrenco alcançaram US$ 1,37 bilhão em 2004.
“Não somos uma trading pura. Buscamos agregar valor com qualidade e confiabilidade. Somos especialistas no fluxo de produtos com serviços integrados e custo competitivo”, define Iafelice. No contrato com a China Grains & Oils, a Agrenco é responsável pela originação da soja, recebimento, formação de preço e logística. Fazem parte do grupo a Agrenco do Brasil (compra e venda de commodities agrícolas como soja, milho, açúcar, algodão e derivados), a Inlogs (logística), a Finacom (serviços financeiros), a Agrifreight (fretes) e a Fertlogs (adubos). Também no exterior, o grupo assumiu esta semana, na Noruega, 40% da unidade de processamento de grãos (que conta com um porto) da companhia local Denofa, por meio da qual pretende se fortalecer na Europa, onde conta com uma dezena de escritórios e uma carteira com 800 clientes ativos, segundo Iafelice.
No Brasil, que representou um faturamento direto de US$ 200 milhões em 2004, a empresa assumiu, em dezembro, controle total sobre o Terlogs Terminal Marítimo, no porto de São Francisco do Sul (SC), depois de comprar, por R$ 52 milhões, participação de 25,5% que pertencia à América Latina Logística (ALL). Ali, o objetivo é dobrar a capacidade do terminal – caso vença uma licitação do berço 401 do porto -, que pode implicar investimentos de até US$ 30 milhões. Atualmente, a capacidade é para 2,5 milhões de toneladas.
Iafelice afirma que a Agrenco também está investindo, em sistema de leasing, em 240 vagões para otimizar o transporte de grãos pelo sistema da ALL . E, em caso de vitória na licitação do berço 401 de São Francisco do Sul, a idéia é agregar 200 vagões por ano nos próximos anos. Ainda no Brasil, estão sendo incorporados seis novos silos para armazenagem no Mato Grosso, num aporte de US$ 8 milhões. No Estado, foram nove novos silos em 2004. No total, incluindo adubos, o volume negociado pelo grupo no ano chegou a 9,9 milhões de toneladas – 4 milhões negociadas em sistema de intermediação pura e 5,9 milhões de produtos com valor agregado.
Para irrigar os projetos de 2005, Iafelice informa que captou, via Finacom, US$ 600 milhões, dos quais US$ 65 milhões servirão para financiar produtores de soja na safra 2005/06. Em 2004, o grupo dispôs, no total, de US$ 415 milhões.