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Brasil pode lucrar com interesse da China por energias alternativas

A falta de energia na China, resultado de um forte e contínuo crescimento de 9% ao ano, em média, no último quarto de século, está levando o governo de Pequim a buscar novas fontes de fornecimento. O Brasil pode ser beneficiado por essa demanda em duas frentes: petróleo e álcool.

O governo chinês tem ido longe em busca de petróleo. Recentemente, o presidente da China, Hu Jintao, foi até o Gabão, na África, para assinar um contrato pela estatal Sinopec, que vai importar petróleo da francesa Total, instalada no país africano. O mesmo já foi feito com a Argélia e o Egito. As gigantes estatais da área de petróleo Sinopec, CNOOC e Petrochina também têm atraído a atenção de bancos de investimento devido a seus programas, em especial de compras de ativos no exterior.

A estratégia do governo de Pequim, segundo analistas, é a de reduzir a dependência do combustível importado da Arábia Saudita, de Omã e do Irã, e ampliar a compra de petróleo e gás na América Latina, na África, na Indonésia, na Rússia e no Mar Cáspio.

No próximo domingo, quando a Petrobras inaugurar seu escritório em Pequim, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a China estará dando mais um passo na estratégia de ampliar suas fontes de importação de energia. Detalhes do acordo entre Petrobras e Sinopec ainda não foram divulgados, mas o chanceler brasileiro Celso Amorim disse, na semana passada, que o acordo na área de petróleo entre os dois países pode envolver “até cooperação em terceiros mercados”.

A China ultrapassou o Japão e é hoje o segundo maior consumidor de petróleo do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. “Desde 1993, a China deixou de ser exportadora de petróleo e hoje importa 30% de suas necessidades”, diz o consultor da União da Indústria Canavieira (Unica), Alfred Szwarc. Daí a necessidade de, além de importar petróleo, diversificar as fontes de fornecimento.

O economista-chefe do banco UBS Warburg, Marcelo Mesquita, avalia que a presença da Petrobras na China pode ser interessante, pois a empresa possui tecnologia avançada na área de exploração de petróleo em águas profundas. “No mar da China deve ter petróleo. Resta saber qual é o custo desse trabalho e se (o território a ser explorado) já está mapeado. É o tipo de operação que dependerá muito do levantamento técnico”, diz. Mesquita lembra que a estatal já tem trabalhos de exploração no Golfo do México e na África.

A declaração do chanceler Amorim, de que a parceria com a China pode levar a operações conjuntas em terceiros mercados, também sinaliza que Sinopec e Petrobras possam estar partindo para uma política comum a grandes empresas de petróleo: investir em diversas partes do mundo para diluir riscos e não ficar dependendo de poucas fontes de fornecimento.

O analista de investimentos sênior do Banco Itaú, Gilberto Pereira de Souza, observa que o que deverá ser assinado entre a Petrobras e a Sinopec “é uma carta de intenções. Não há absolutamente nada fechado ainda.”

Mas ele vê essa aproximação entre as duas estatais de forma positiva. “É melhor a Petrobras se aproximar da China do que do Irã; é menos arriscado”, diz, ao lembrar que, recentemente, a Petrobras anunciou intenção de participar de licitações no Irã. O analista do Itaú avalia que, além de a estatal brasileira, eventualmente, vir a explorar petróleo na costa chinesa ou fazer operações conjuntas com os chineses em outros países, a Sinopec pode estudar investimentos no Brasil.