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Alta do PIB ainda pode chegar a 4%

Apesar das turbulências no front externo terem gerado pressão sobre o câmbio e a alta do petróleo ameaçar aumento dos combustíveis e perdas para a Petrobras, economistas de bancos e consultorias ouvidos pelo Valor optaram por manter inalteradas suas projeções para a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 entre 3% e 4%.

A única exceção é a Global Invest, consultoria que reviu para baixo, pela segunda vez este ano, sua estimativa de Produto Interno Bruto (PIB). Na semana passada, baixou-a 3,4% para 3,1%, como informou seu economista-chefe Paulo Gomes. A consultoria foi a única que apostou no ano passado numa queda de 0,2% do produto.

Na ótica de Gomes, a decisão foi tomada tendo em conta uma conjunção de fatores que incluem a expectativa de juros mais altos nos EUA a partir de junho, fuga de recursos dos emergentes para o mercado americano, alta do dólar – que embora favoreça as exportações pode causar efeitos inflacionários, tornando necessário juro mais alto restringindo a atividade econômica – e ainda a alta do petróleo que encarece a energia e leva a um desaquecimento econômico.

A LCA Consultores, mesmo reconhecendo que o quadro macroeconômico piorou um pouquinho, como destaca seu economista Francisco Pessoa Faria, prefere manter sua projeção de taxa de crescimento do PIB em 3,5%. No início do ano, apostava em 3,8% e por conta da trava da trajetória do juro básico em janeiro, preferiu reduzir sua expectativa de crescimento.

Para o PIB do primeiro trimestre, a LCA trabalha com uma taxa de crescimento de 2,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior, com destaque para a agropecuária que poderá crescer no período 5,5%, a indústria 3,9% e os serviços, 2,2%. As perspectivas são ainda melhores para o PIB do segundo trimestre.

Pessoa Faria projeta um aumento na atividade econômica no período de 3,6%, ante o segundo trimestre de 2003. Ele estima, porém, um recuo da indústria entre abril e junho. No primeiro trimestre, a indústria cresceu 5,8% e poderá encolher para 4,7%, um pouco pelo nervosismo dos mercados e também devido à retração no consumo de bens duráveis, que cresceu muito entre janeiro e março.

Juan Jensen, da Tendências, ainda não fez nenhuma revisão na sua projeção de crescimento para 2004, da ordem de 4%, a mais elevada até agora. “O desempenho recente da indústria está confirmando um bom patamar de crescimento”, avisa. Suas projeções para o PIB trimestral do primeiro trimestre confirmam esta perspectiva mais otimista. Ele calcula um crescimento de 2% na base de comparação do primeiro trimestre de 2004 ante igual período de 2003, com a indústria crescendo 2,1%, a agropecuária, 2,6% e os serviços, 1,9%.

O economista previu uma taxa dessazonalizada positiva de 1,4% para o PIB do primeiro trimestre na comparação com o quarto trimestre de 2004. Isto, apesar da produção da indústria ter caido 1,1% nesta base de comparação.

Jensen explicou que o resultado do PIB trimestral das Contas Nacionais do IBGE também vai indicar uma produção da indústria positiva nesta base de comparação, porque vai incorporar o quarto trimestre como foi calculado na velha pesquisa da indústria.

O economista do Unibanco, Andrei Spacov, optou também por manter a projeção de 3,5% para o PIB do ano. “Se a turbulência externa continuar pressionando o dólar nos próximos 30 dias, podemos revisar o dado para baixo”. Já o economista-chefe do Opportunity, Gino Olivares, continua acreditando em uma alta de 3% a 3,5% para 2004, a seu ver uma taxa possível dadas as restrições da economia.