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EUA devem superar Brasil e liderar produção de álcool

O Brasil deve continuar reinando absoluto na produção e nas exportações de açúcar pelo menos até 2010, mostra estudo feito pela International Sugar Organization (OIC), com sede em Londres. Contudo, o país terá seu posto de maior produtor mundial de álcool desbancado pelos Estados Unidos nos próximos dois ou três anos.

A perda da liderança na produção de álcool não significa que o Brasil deixará de investir no combustível. Pelo contrário. No relatório da ISO, o cenário mais provável considera que o consumo de álcool no Brasil deve crescer com o avanço das frotas de veículos bicombustível (que aceita gasolina e álcool hidratado no mesmo tanque).

O Brasil também aumentará suas exportações de álcool, de 1,2 bilhão de litros estimados para 2004 para 2 bilhões de litros em 2010. “O percentual de produção de álcool deverá ser maior do que o do açúcar em virtude do aumento da demanda interna”, afirmou ao Valor Leonardo Bichara Rocha, economista da ISO.

Os constantes investimentos dos Estados Unidos na produção de álcool e na construção de destilarias, entretanto, mostram que a produção de álcool naquele país poderá dobrar até 2010.

Segundo Celso Sturion, da divisão de açúcar da Stokler, o potencial de crescimento dos EUA é muito superior ao do Brasil. “Os americanos têm lavouras de milho inativas no Meio-Oeste, bancados com subsídios”, disse. Hoje, os americanos produzem cerca de 10 bilhões de litros, atrás do Brasil, que é líder com uma oferta de 14 bilhões de litros.

“No ritmo de investimentos dos EUA, eles atingirão 20 bilhões de litros em 2010, enquanto o Brasil ficaria com 17 bilhões no mesmo período”, disse. Para Sturion, os americanos têm condições de absorver toda sua produção de álcool, uma vez que a frota dos EUA é bem superior a do Brasil. Para os americanos, o álcool é uma alternativa mais econômica à gasolina que tem atingido valorização recorde naquele país.

O cenário mais conservador da ISO é de que o Brasil aumente sua área para cana em torno de 4% ao ano, até 2010, e que o excedente exportável de açúcar alcançará 18 milhões de toneladas. “Não há como superar o Brasil porque o país tem os menores custos do mundo”, afirmou Rocha.

A ISO evita fazer estimativas mais otimistas para o crescimento do mercado internacional de álcool. “Os potenciais importadores não querem depender de um único provedor. Não há dúvidas de que muitos países deverão produzir álcool, mas antes precisam de suporte de seus governos para investir na produção do álcool”, observou Rocha.

As barreiras tarifárias também devem inibir um avanço no curto prazo do álcool brasileiro no mercado internacional, apesar da sinalização da Europa em conceder cotas para o Mercosul e das importações de álcool brasileiro para os EUA via Caribe.