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Lula suaviza a sua crítica aos empresários

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma mudança em relação às suas declarações do dia anterior, sobre a necessidade de os empresários brasileiros serem mais agressivos na exportação, assim como os indianos, e irem a outros países em busca de compradores. “Ontem (terça-feira), houve quem achasse que fui duro com os meus companheiros empresários brasileiros, quando os desafiei, e não foi a primeira vez. Temos que desafiar a cada dia. Não aqueles que estão aqui e os que viajam, mas o que ficam dentro de seus países esperando que aconteçam milagres”.

No mundo dos negócios, disse, não tem milagre, tem trabalho. As declarações de terça-feira tinham sido feitas num almoço com representantes de empresas do Brasil e da Índia. Entre elas, uma das maiores exportadoras do País, a Embraer. O presidente não fez, por exemplo, distinção entre as que já buscam mercado no exterior e as que não exportam ou exportam pouco.

A ressalva pegou bem. Robson de Andrade, vice-presidente da Confederação Nacional da Industria (CNI), disse que o presidente amenizou o seu discurso. “Foi um discurso light” e, segundo ele, tranquilizador. No fundo, o que ocorreu foi bom, porque deu uma chacoalhada no setor privado e no governo, afirmou. Na terça-feira, Lula disse que convocaria um encontro com associações de representação de empresas, como a CNI, para colocar o desafio de aumento das exportações, o que Andrade considerou positivo, para que o setor privado possa inclusive fazer suas demandas, como melhor infra-estrutura.

O encontro de ontem, o Fórum Empresarial Brasil-Índia, foi em Mumbai e foi o último compromisso de Lula em sua visita de quatro dias à Índia. Antes, visitou o palácio Taj Mahal, um dos principais destinos turísticos do país, construído em 1653 pelo rei Shan Jahan, para ser um mausoléu para sua esposa. É considerado um templo ao mar. O presidente ficou impressionado com a beleza do local. Disse que conhecer o Taj Mahal era um desejo antigo.

Mas o presidente ficou impressionado também com a pobreza que viu no caminho entre o aeroporto de Agra e o Taj Mahal. À tarde, o presidente seguiu para Genebra, onde se reunirá com investidores estrangeiros e com Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e com Jacques Chirac, presidente da França, para discutir a criação de um fundo mundial de combate à pobreza.

Numa audiência de cerca de 200 empresários, Lula voltou a reafirmar a importância da aliança com a Índia num mundo globalizado e no qual os países ricos colocam obstáculos à importação de produtos de países menos desenvolvidos. Falou também das similaridades entre o Brasil e a Índia, que incluem tamanho da economia, potencialidade de crescimento e problemas sociais. E disse que a criação de grupos como o G-3 pela Índia e Brasil – nesse, especificamente, também faz parte a África do Sul – é uma ação necessária para ter um lastro político, para flexibilizar os laços políticos de países ricos e que estabelecem barreiras comerciais às economias em desenvolvimento. Pela manhã, no mesmo local em que Lula discursou, houve um seminário sobre os potenciais de negócios nos dois países.

A idéia de Lula de investir na Índia é anterior à sua eleição. De qualquer forma, o presidente disse que não imaginava que em tão pouco tempo conseguiria “a proeza” de o Mercosul e a economia indiana fecharem um acordo de preferências tarifárias. O acordo foi assinado no domingo e agora serão negociados cinco anexos à ele, que inclui a listas de produtos a terem tarifas reduzidas. Para a Índia fazer isso, significa que os dirigentes indianos estão confiantes nos dirigentes do Brasil e nos do Mercosul, disse. O acordo foi um dos mais importantes assinados na visita do presidente, que aproveitou para dizer que a integração física da América do Sul é irreversível, embora possa demorar em razão da disponibilidade de recursos. Ele convidou os indianos a irem ao Brasil, porque, disse, podem achar o que estão procurando para realizar bons negócios.

Como acontece com freqüência, Lula foi tratado quase como uma estrela. Deu autógrafos a empresários da Índia e do Brasil e foi fotografado por vários dos presentes ao encontro. O presidente da Confederação da Indústria Indiana (CII), Anand Mahindra, elogiou Lula em relação a várias de suas declarações, como a de que é preciso crescimento econômico acompanhado de inclusão social, e o fato de dar atenção à Índia.