Não, não é do verde do dólar que estamos falando, ainda que muitos dólares sejam movimentados neste novo tipo de aplicação dos fundos de investimento brasileiros.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que somente os ambientalistas e ecologistas defendiam a preservação das matas e do meio ambiente, mas as coisas estão mudando, visto que a preocupação com o verde já chega ao mundo dos negócios.
Recentemente, os investidores começaram a perceber que o investimento em empresas ecologicamente corretas é um bom negócio, especialmente em um mundo pós-Protocolo de Kyoto, onde foram estabelecidos incentivos para reduzir a poluição ambiental. Um destes incentivos é a venda de créditos de gás carbônico ao Banco Mundial (Bird), que pode render muitos dólares às empresas que aderirem ao negócio.
Para se ter uma idéia, o número de participantes no chamado mercado de transações do carbono vem crescendo a cada dia, mostrando que os potenciais de ganho realmente existem. De acordo com os dados da International Emissions Trading Association, o número de participantes neste mercado cresceu 43% em apenas dois anos, passando de 81, em 2001, para 116 no ano passado.
E quem pensa que este tipo de oportunidade somente vem sendo detectada por países desenvolvidos, engana-se novamente. Algumas empresas brasileiras já aderiram à onda dos investimentos no verde, como a siderúrgica mineira Plantar, por exemplo. Em 2001, a empresa assinou um acordo com o Bird, pelo qual receberia US$ 5 milhões pela entrega de 1,5 milhão de toneladas de carbono em um prazo de sete anos, contados a partir de 2004.
Como funciona exatamente o negócio? Simples. Ainda utilizando-se do exemplo da Plantar, a empresa produzirá ferro gusa a partir do carvão vegetal, em substituição ao coque, que era utilizado até então. Como cada tonelada de ferro gusa produzida com coque deixa como sobra para a natureza 1,1 tonelada de gás carbônico, além de que as árvores que serão plantadas para posterior queima retiram 1,9 tonelada de gás carbônico da natureza, então o saldo total é de uma retirada de 3 toneladas de gás carbônico para cada tonelada de ferro gusa produzida.
Assim como no caso da siderúrgica mineira, outras empresas estão desenvolvendo projetos que buscam reduzir a emissão de gás natural na atmosfera, beneficiando-se, assim, da venda de seus créditos a instituições internacionais. Somado a esta estratégia, muitas empresas brasileiras poderão se beneficiar de uma cláusula do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que permite aos países desenvolvidos deduzir de seus níveis de emissão de gás carbônico os créditos acumulados em função de investimentos em projetos ecologicamente corretos de países menos desenvolvidos.
Vale destacar que tal cláusula decorre do fato de que os países desenvolvidos foram, historicamente, os maiores responsáveis pela poluição da atmosfera terrestre, de forma que o Protocolo de Kyoto estipulou que nada mais justo que eles se responsabilizarem pela maior parte da redução de emissão de gás carbônico. Como eles poderão deduzir de sua cota, os créditos gerados por investimentos em programas ambientais, estima-se que os ganhos dos países em desenvolvimento podem chegar a US$ 2,4 bilhões.
Dessa maneira, aproveitando-se dos ganhos potenciais deste novo mercado, pelo menos quatro fundos de venture capital estão sendo formados no Brasil, tendo como objetivo justamente o financiamento de projetos que tenham como marca a gestão da sustentabilidade. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por exemplo, está analisando o fundo proposto pela assessoria financeira Ecoinvest, que propõe investimentos para redução da emissão de gás carbônico.
Destaque também para a chegada no país do Programa New Ventures, idealizado pela ONG (Organização Não-Governamental) norte-americana World Resources Institute, que seleciona empresas locais que sejam ambientalmente responsáveis para que estas participem de um fórum com investidores. Percebe-se, assim, que os investidores vêm cada vez mais ampliando os investimentos em empresas ambientalmente responsáveis, interessados em um mundo repleto de verde.