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Acerto com usineiros está apenas no começo

O “acerto de contas” entre governo e setor sucroalcooleiro está apenas no começo. O parcelamento da dívida de R$ 405 milhões das usinas com o Tesouro Estadual e o Crédito Presumido são apenas a “ponta do iceberg” jurídico, econômico e administrativo. “É o ponto de partida, a demonstração de que as duas partes estão dispostas a se relacionar e a resolver as diferenças. E mais do que isso significa, a nível imediato, o incremento de receita para o Estado”, resume o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool em Alagoas (Sindaçúcar/AL), Pedro Robério Nogueira.

O mediador do acordo, Bolívar Moura Rocha, do escritório Levy & Salomão, responsável pela proposta que foi aceita pelo governo e pelo setor sucroalcooleiro antecipa que nos próximos dias será preciso muito trabalho para que o acerto de contas seja feito na prática. “O entendimento presume a conclusão de alguns cálculos financeiros que ainda estão sendo feitos e, principalmente, que sejam encerradas diversas ações que tramitam hoje no Tribunal de Justiça de Alagoas (TJA), no Supremo Tribunal Federal e no Superior tribunal de Justiça”, afirmou

O governador Ronaldo Lessa reconhece que tanto os empresários do setor sucroalcooleiro quanto o Estado terão que fazer um esforço redobrado para se livrar do “entulho” jurídico. Mas adianta: há processos que continuarão tramitando. Um deles, na alçada do STF, questiona a isenção do ICMS para a exportação do açúcar demerara. “Vamos aguardar o julgamento para decidir o que fazer”, explicou.

Afora essas questões, todas as outras pendências, segundo o governador serão resolvidas juridicamente ou administrativamente. “Estamos começando um novo relacionamento com o setor”, afirmou.

Receita

Para o Estado, o maior ganho segundo Ronaldo Lessa será o incremento da receita. A estimativa do secretário Sérgio Dórea, da Fazenda, é que o setor sucroalcooleiro contribua com mais R$ 57,8 milhões anuais. Já os empresários do setor sucroalcooleiro vão deixar de se preocupar com questões políticas e jurídicas e se concentrar apenas na pauta econômica.

“Estamos pondo fim a um período de mais de uma década de disputas judiciais. Acredito que o setor sai ganhando na medida em que vai trabalhar com uma legislação clara. Acabamos com a aquele período de autuações fiscais, de desconfianças e passamos a produzir com novas perspectivas. Também ficamos satisfeitos porque o entendimento vai permitir ao setor aumentar sua contribuição, via incremento da arrecadação de impostos, para o desenvolvimento do Estado”, disse Pedro Robério Nogueira.

Quem ganhou com o acerto de contas? Na avaliação de Bolívar Moura Rocha, ninguém: “um acordo presume que as duas partes tem de abrir mão de pontos de vistas em nome do entendimento. Minha opinião sincera, nesse caso, é que o Estado de Alagoas saiu ganhando”, afirmou.

História

“O acerto de contas com o setor sucroalcooleiro é um momento histórico para Alagoas”. A afirmação é do governador Ronaldo Lessa, ao explicar o acerto firmado com o setor sucroalcooleiro do Estado, por meio de projeto de lei enviado pelo Governo de Alagoas e aprovado pela Assembléia Legislativa.

Com a nova legislação para o setor, a estimativa de arrecadação da Secretaria da Fazenda para 2004 é de um incremento de mais R$ 57,8 milhões para a receita. A nova legislação se dará através do regime de crédito presumido, sistema adotado também por estados como Pernambuco, Paraíba e Bahia, e acaba com compensação dos de insumos.

Pelo sistema, as usinas deixam de se creditar dos impostos pagos pelos insumos usados na fabricação do açúcar e do álcool e passam a se creditar de 2,25% da lei do crédito presumido. A nova Lei deve permitir uma arrecadação extra de R$ 31 milhões/ano.

O incremento será complementado pelo parcelamento do indébito da cana própria com o parcelamento em 15 anos de créditos a que o Estado tem direito. Os valores são da ordem de R$ 405 milhões, sendo R$ 324 milhões referentes a insumos e parcelas de ICMS que os usineiros não recolhiam, como previa o acordo anterior.

Com o indébito da cana, o Estado deverá arrecadar anualmente R$ 21,6 milhões. Outros R$ 2,66 milhões anuais são oriundos da declaração de nulidade da Lei 6.004/98. “Com o acerto de contas, o Estado, que arrecadava anualmente R$ 53 milhões do setor sucroalcooleiro, passará a arrecadar a partir de 2004 recursos da ordem de R$ 110,8 milhões, com um acréscimo da capacidade contributiva do setor sucroalcooleiro”, afirmou Lessa.