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Delta Energia lança comercializadora e vai competir com BTG

Cassiano Agapito, presidente do Grupo Delta Energia — Foto: Valor
Cassiano Agapito, presidente do Grupo Delta Energia — Foto: Valor

O Grupo Delta Energia está lançando uma nova comercializadora, a Principal Energia. O presidente da nova empresa, Cassiano Agapito, foi um dos fundadores da comercializadora Coomex em 2006. Em 2010, a empresa foi vendida ao BTG Pactual, do qual Agapito permaneceu como sócio até junho deste ano. Passado o período de “quarentena” do executivo, ele apostou em uma nova empresa, e trouxe da mesa de energia do BTG Pactual três novos sócios.

“A princípio, nosso objetivo é focar nos contratos físicos de energia. Temos produtos com ‘um quê’ de financeiro embutido”, disse Agapito. O objetivo da nova empresa é oferecer produtos diferenciados e sob medida aos clientes, atuando, por exemplo, com derivativos e swaps de contratos.

O executivo conta que deixou o BTG Pactual no início de junho deste ano já com o objetivo de voltar a ter seu próprio negócio. Durante os seis meses em que cumpriu a cláusula contratual de não competir com a antiga casa, Agapito passou a estruturar a ideia de uma nova empresa. Foi aí que entraram os novos sócios.

Atuando no mercado de comercialização de energia desde 2001, o Grupo Delta Energia entrou com um capital inicial de R$ 20 milhões na Principal Energia, e uma participação de 75%.

Os demais 25% estão divididos entre Agapito e outros três sócios, todos ex-funcionários do BTG Pactual: Jayme Abras Neto, diretor Comercial da nova comercializadora, Vitor Pontes, chefe de Precificação, e Marcelo Ambra, Tesoureiro.

Os quatro diretores da empresa, porém, terão a possibilidade de aumentar a participação, de acordo com o cumprimento de metas de desempenho nos próximos anos. “Temos opções, performando vamos ter o crescimento da nossa participação e a deles será diluída”, disse Agapito. A empresa não quis revelar qual o limite dessas opções em termos de participação na empresa.

O caminho é inverso ao trilhado pela Coomex em 2010, quando a comercializadora, na época com faturamento de R$ 500 milhões, foi adquirida pelo BTG. Agapito é o único dos três fundadores da Coomex que permaneceu no banco até este ano. José Manoel Biagi Amorim e Cláudio Monteiro da Costa, que também eram antigos donos da Coomex, chegaram a integrar o quadro societário do BTG Pactual mas deixaram o banco nos últimos anos.

A meta da Principal Energia é chegar a um volume de 500 megawatts (MW) negociados no primeiro ano, com faturamento também de R$ 500 milhões.

O principal concorrente da comercializadora será justamente o BTG Pactual, devido ao nicho de mercado diferenciado que exploram. O foco da Principal Energia será em operações estruturantes, com derivativos, se diferenciando de grande parte das empresas que atuam nesse mercado, que cresceu no último ano com a migração de pequenos consumidores, enquadrados na categoria de consumidores especiais.

Ambra, o tesoureiro da comercializadora, iniciou a carreira trabalhando na área de renda fixa e explicou que começou a enxergar o mercado de energia com um “casamento financeiro”. Segundo ele, a ideia é elaborar produtos específicos para clientes, por exemplo, com necessidade de comprar energia mas com descasamento de fluxo de caixa.

“Traremos soluções para os clientes, e não só produtos, agregando valor para o setor elétrico”, disse Agapito. “Nosso foco é nos grandes players, no atacado, não vamos migrar clientes do mercado regulado para o livre”, completou. O objetivo é acessar os grandes agentes do mercado livre de energia e que já tem experiência com os produtos que a comercializadora oferece.

É o caso de grandes geradores de energia, por exemplo. Se uma usina está descoberta em 2017, mas com excesso de energia na carteira em 2018, a comercializadora pode fazer um contrato de swap, e entregar a energia em 2017 e ficar com ela em 2018.

“Trazemos flexibilidades contratuais para os consumidores. Muitas vezes, um consumidor industrial compra energia e depois não utiliza. Ele não quer lidar com esse risco, nós vamos lidar”, disse.

Também são feitos contratos indexados à títulos do Tesouro, por exemplo. A solução é “customizada”, segundo os sócios.

Com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão, a o Grupo Delta Energia, dos empresários Rubens Parreira e Ricardo Lisboa, tem atuação na área de comercialização de energia e também na produção de etanol e biodiesel. Por esse caráter diferenciado da Principal Energia, a Delta não enxergou o novo investimento como uma concorrência, mas como uma oportunidade de um novo mercado a ser explorado.

A margem obtida com essas negociações também é diferente, segundo Agapito. Em algumas operações, a margem do retorno sobre o faturamento pode chegar a 20%, devido aos riscos assumidos e à gestão feita pela empresa.

O foco hoje é em contratos físicos, mas a comercializadora também quer trabalhar no crescimento do mercado financeiro de contratos de energia. “Temos uma análise criteriosa de risco, trouxemos isso conosco. Essa é nossa especialista, como ter proteção do risco”, disse Agapito.

As informações são do Valor.