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Fatores-chave para o sucesso do CEO na empresa familiar

Fatores-chave para o sucesso do CEO na empresa familiar

Por: João Bosco Silva*

A relação entre acionistas e CEO representa sempre um desafio, principalmente para empresas familiares. Nestas empresas, além das competências inerentes ao cargo, o executivo precisa ter profundo entendimento dos objetivos e valores da família controladora. Somente a partir dessa percepção, o CEO consegue conquistar a confiança da família controladora e aplicar suas habilidades de gestão e experiências para atender plenamente as demandas do negócio.

Existem empresas familiares nas quais o CEO é um membro familiar e outras nas quais este papel é exercido por um executivo não familiar, contratado interna ou externamente. Muitas vezes, em um esforço por profissionalizar a empresa, o Conselho ou, na falta dele, a família controladora prioriza as habilidades de gestão e as experiências ao escolher o CEO. Sem dúvidas, são critérios essenciais para elevar os resultados financeiros de uma empresa, mas no caso de sistemas familiares, estes fatores não bastam.

De um lado, a família controladora espera, antes de mais nada, que o CEO se identifique com os seus valores. Muitas vezes, este alinhamento não é verificado no momento da contratação, e só se confirma no exercício da sua função. A família também espera que o CEO tenha credibilidade, construída com comprometimento, cumprimento do que é prometido e entrega de resultados. Outro pré-requisito para o CEO de uma empresa familiar é a transparência. O executivo não pode por exemplo, esconder ou distorcer informações, e ter agenda oculta frente ao Conselho. O CEO precisa assumir erros e fazer uma boa gestão de risco. Empresas familiares tipicamente se baseiam mais em confiança que em mecanismos formais de controle, tanto para a contratação quanto para o acompanhamento de executivos. Por fim, a família empresária espera que o CEO entenda e compartilhe a visão dos acionistas na empresa. Para isso, o CEO deve se comunicar bem e usar a linguagem dos acionistas.

Por outro lado, o executivo que assume a posição de CEO em uma empresa familiar também tem expectativas em relação à família que controla o negócio. O CEO espera, em primeiro lugar, que a empresa tenha mecanismos de governança instaurados, que separem os papeis e responsabilidades dos acionistas, da família e da gestão. O CEO certamente não quer interferências inadequadas de acionistas e/ou familiares na sua gestão, o que lhe tiraria autoridade. Para o CEO, também é importante que, se houver um Conselho de Administração, este seja independente e contribua positivamente para o negócio, sendo não apenas um órgão que cobra resultados, mas que também orienta e agrega conhecimento aos executivos. Por fim, um CEO de empresa familiar espera ser tratado com respeito e cortesia pela família acionista.

Algumas medidas podem prevenir problemas e aumentar as chances de uma boa relação entre CEO e família controladora, na empresa familiar. A principal delas é implementar mecanismos de governança corporativa que separem os papéis do CEO e dos acionistas, como o Conselho Consultivo ou de Administração. A existência de um Conselho atuante garante a autonomia do CEO e ao mesmo tempo o foco nos objetivos da família controladora. Outra medida que pode aumentar as chances de sucesso da relação entre CEO e família controladora é o cuidado na seleção do CEO, principalmente se houver candidatos não familiares externos. Devem ser usados critérios de seleção “formais”, como qualificação e habilidades de gestão, mas também critérios “subjetivos”, como o alinhamento de valores, através – por exemplo – de entrevistas com familiares. Por fim, atividades de acompanhamento, como coaching e mentoring podem ajudar o CEO a desempenhar seu papel na empresa familiar.

Conclui-se que a relação entre CEO e Conselho (ou, na falta deste, família controladora) é um ponto sensível e crítico não só para a permanência do CEO no cargo como também para o sucesso do negócio familiar. A empresa familiar deve considerar sua natureza e criar o ambiente propício para que esta relação seja a melhor possível. E o CEO deve ter os valores alinhados com a família e as habilidades necessárias para que haja vínculos de confiança em ambos os lados.

*João Bosco Silva ocupou a posição de CEO em uma multinacional e em uma grande empresa familiar brasileira, e hoje é sócio e diretor na Bridge Business Advisors. Contato: [email protected]