Uma das principais apostas da Rumo, braço logístico do grupo Cosan, com a compra da ALL – maior empresa ferroviária do Brasil – foi a renovação antecipada da concessão da Malha Paulista por mais 30 anos. Filé mignon da empresa, por ligar a maior região produtora de grãos do País ao Porto de Santos, esse trecho é considerado estratégico para o projeto de expansão da companhia. O problema é que, um ano e meio após assumir a gestão do negócio, a renovação tem enfrentado uma série de entraves e incertezas.
Embora o vencimento da concessão seja apenas em 2028, a renovação antecipada traria maior segurança aos investidores de que os aportes prometidos pelo novo controlador – de R$ 8,5 bilhões nos próximos anos – para a ampliação e melhoria da malha da ferrovia seriam efetivados. Desde que assumiu a operação, em abril de 2015, as ações da Rumo quase dobraram na Bolsa, saindo de R$ 3,47 para R$ 6,85, especialmente por causa da expectativa de renovação das concessões e reestruturação financeira da ex-ALL, altamente endividada.
A reestruturação financeira foi praticamente concluída neste mês. Além do alongamento da dívida e aumento de capital, de R$ 2,6 bilhões, o grupo conseguiu aval do BNDES para financiamento de R$ 3,5 bilhões, aporte necessário para a expansão da ferrovia. O nome ALL foi extinto pela Rumo.
Agora falta fechar a outra ponta: renovar a concessão. Segundo fontes, é crucial para a liberação dos recursos do BNDES. Logo após o fechamento do negócio, o empresário Rubens Ometto Silveira Mello, dono da Cosan, teve da ex-presidente Dilma Rousseff a promessa de que a renovação seria feita. Mas, com a troca da presidente, o rumo das conversas mudou.
Hoje, renovações de importantes concessões de ferrovias e rodovias, que estavam em andamento no governo anterior, estão travadas. Além do governo de Michel Temer querer tomar pé da situação antes de decidir que caminho tomar, o Tribunal de Contas da União não está tão empenhado em acelerar o processo de uma concessão que vai demorar para terminar.
Outro ponto é que há uma série de pendências que a ex-ALL ainda precisa cumprir referente à concessão atual.
Considerada uma ferrovia complicada, mas estratégica do ponto de vista de escoamento de grãos do Centro-Oeste para o Porto de Santos, a ALL acumulou nos últimos anos uma lista de problemas que hoje pesa contra a renovação. Só na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), há 147 processos contra a empresa por descumprimentos de contratos.
Entre eles, o aumento do número de acidentes associados à redução da velocidade da ferrovia – indicadores que apontam falta de investimentos na malha. Em 2009, foram 167 ocorrências. No ano passado, esse número ficou em 495. Este ano, começaram a reduzir e, no acumulado até setembro, somavam 236. Outro ponto que incomoda o governo e o TCU é a subutilização e o sucateamento de parte da malha da empresa, de 12,9 mil quilômetros. Segundo uma fonte em Brasília, quase 80% dos trechos da ferrovia não têm condições de uso.
Fontes ouvidas pelo Estado afirmam que as conversas entre novos gestores e governo foram retomadas e seguem bem.
Procurada, a ANTT informou que os processos de renovação estão em curso. “O governo federal estuda editar uma medida provisória para este fim.” A Rumo, por meio de sua assessoria, não se manifestou.
Ninguém duvida que renovação seja uma saída. Mas pode não ser tão rápida e do jeito como era esperada. Às vésperas de uma nova safra recorde de grãos prevista para 2017, o escoamento de soja e milho por trilhos do Centro-Oeste para Santos é um dos gargalos a ser resolvido para melhorar a eficiência do agronegócio. A logística é sempre um ponto sensível no elo dessa cadeia.
PARA LEMBRAR
Negociação Tumultuada
A incorporação da América Latina Logística (ALL) pela Rumo foi um processo tumultuado. Na primeira oferta feita pelo Grupo Cosan, em fevereiro de 2012, a companhia de Rubens Ometto Silveira Mello ofereceu R$ 896 milhões para entrar no bloco de controle da ALL, com a compra das ações dos acionistas Wilson Ferro de Lara e Riccardo Arduini.
Mas os outros sócios do bloco de controle – os fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e BNDES, sobretudo, foram contra e as negociações travaram. Meses depois, Cosan e ALL voltaram a conversar. A incorporação das ações da ALL na Rumo foi acertada, mas a operação encontrou forte resistência de operadores logísticos, que tentaram barrar a negociação.
Fonte: (O Estado de S. Paulo.)