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Queda de preços é boa notícia, mas não soluciona problemas do etanol

Desde março passado, percentual de etanol na
gasolina subiu de 25% para 27%
Desde março passado, percentual de etanol na gasolina subiu de 25% para 27%

redução nos preços da gasolina pode ser encarada, em princípio, como uma boa notícia para os produtores de etanol, mas não soluciona os problemas do setor.

A decisão da Petrobras é boa pois o governo começa a dar previsibilidade à política de preços dos combustíveis.

Toda queda de preço da gasolina torna, no entanto, o preço do etanol menos competitivo em relação ao do derivado do petróleo.

Mas é cedo para uma avaliação de como essa queda da gasolina vai afetar o etanol. Quanto da redução promovida pela Petrobras vai chegar à bomba? Mercado é mercado e, no meio do caminho, os diversos segmentos envolvidos na cadeia podem se apropriar de parte dessa queda.

Além dos impostos, distribuidoras e postos podem elevar a margem de ganho no processo.

Mas a Petrobras, agindo agora como empresa que deve manter suas contas em dia, vai dar previsibilidade aos preços, uma exigência do setor sucroalcooleiro nos últimos anos.

Mas só a previsibilidade não basta. Falta, ainda, política de longo prazo para o setor, evidenciando as qualidades desse combustível limpo e menos prejudicial à saúde.

Essa é uma questão difícil, principalmente em período de economia em recessão. Afinal, é uma decisão de se definir quanto a sociedade estaria disposta a pagar por esse “ônus”, graças às externalidades do combustível.

Se a redução de preços da Petrobras realmente chegar à bomba de forma integral, o etanol perde competitividade e terá de encontrar novos espaços na matriz energética.

O setor sucroalcooleiro poderá ser penalizado duas vezes. Além da eventual perda de competitividade do etanol -se ela se concretizar-, é um setor que consome muito diesel na produção. E este, ao contrário do que ocorreu na redução anterior de preços, em 2009, teve queda menor de preço do que a gasolina.

Sem política de longo prazo, o etanol, menos competitivo, deverá perder espaço. Não houve investimentos no setor nos últimos anos, devido à grave crise de preços.

Com isso, a oferta de cana deve reagir lentamente, sendo destinada basicamente para a produção de açúcar, devido aos preços melhores do produto e ao deficit mundial.

As previsões indicam que a oferta do produto abaixo da demanda mundial deve demorar por vários anos, inibindo a produção de etanol.

E os efeitos já começam a aparecer. Neste ano, com a recuperação dos preços internacionais do açúcar, a produção de etanol deverá cair.

Fonte: (Folha de S. Paulo)