O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta terça-feira, em discurso na Assembléia Nacional do Uruguai, que alguns setores financeiros asfixiam o Brasil e os países vizinhos para que não possam pagar suas dívidas. “Quem ganha com isso?”, indagou o presidente. E disse: “não sei”. Fernando Henrique disse que o momento internacional causa inquietação, mas que o mercado talvez jamais tenha se comportado de uma forma tão contrária a seus próprios interesses, ignorando os fundamentos econômicos e gerando falsas expectativas. Segundo o presidente, os surtos de insensatez, particularmente no mundo dos negócios, costumam ter fôlego curto, e acabam prevalecendo as oportunidades reais de comércio e de investimento.
O que está ocorrendo nos países dessa região não é uma situação de risco, mas de incertezas, disse. Acrescentou que há agências especializadas na qualificação de riscos, mas elas não são capazes de fazer uma análise sobre as incertezas desses países. “Isso gera um ambiente de extrema confusão, que tem efeitos trágicos em populações que não têm nada a ver com isso”. Em seguida o presidente se referiu a um encontro que teve, ontem, com os candidatos à sua sucessão. Segundo ele, o momento vivido agora está acima do partidarismo e nele devem prevalecer os interesses comuns. “Mas não para enganar, nem para tirar proveito”. O presidente ressaltou que gostou muito de conversar com os líderes políticos, alguns deles críticos de suas propostas há oito, dez ou 20 anos. De acordo com Fernando Henrique, sua intenção foi discutir o presente e o futuro com eles. “Não se trata de apelo à união nacional contra ameaças de fora ou por conveniências políticas de uns ou de outros”, afirmou o presidente, acrescentando que a melhor saída é “trabalhar e construir com seriedade e confiança”. “Nem o mundo se confunde com os especuladores, nem as sociedades podem ser enganadas”. (O Estado de SP)