O presidente Fernando Henrique Cardoso continua confiante e apostando firmemente no futuro do Mercosul, como demonstrou no encontro do bloco entre quinta e sexta-feira. Dentro do seu próprio governo, porém, são cada vez mais evidentes as vozes que apontam para um passo atrás no bloco.
O ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, deixou claro na semana passada que o governo quer pressa na negociação de um acordo de comércio com o México, assim como nas discussões com a África do Sul. Fontes do governo foram ainda mais longe e afirmaram ao Estado que, se os parceiros do Brasil no Mercosul criarem novos problemas a esses acordos, o País vai negociar sozinho. O mesmo, dizem, valerá para qualquer negociação proposta – até para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ou os pretendidos acertos com a Índia e a China.
Alguns colaboradores do presidente da República acreditam, assim, que o melhor caminho para o Brasil será montar uma estratégia solitária de inserção no comércio mundial e manter apenas o livre comércio com os vizinhos. A situação crítica das economias da região, de acordo com essa análise, torna inútil o exercício da integração no Mercosul e se traduz na perda de oportunidades de abertura de mercado aos produtos brasileiros. Negociar sozinho, porém, significaria, na prática, o rompimento do projeto de união aduaneira do Mercosul, o passo anterior ao mercado comum. Em ambos, com diferentes gradações, os parceiros se dispõem a manter uma mesma política comercial e tarifária. Pelas regras do Mercosul, nenhum de seus sócios pode alçar vôo sozinho e fechar um acordo comercial com outro país. As negociações de abertura de mercados se dão sempre em bloco. Uma vez rompida essa regra, o Mercosul se tornaria apenas uma área de livre comércio. (O Estado de SP)