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Lula propõe a construção de uma nova geografia comercial

O discurso do presidente Luís Inácio Lula da Silva, voltado para a união dos países em desenvolvimento, está o elevando, na Índia, ao patamar de líder das chamadas nações emergentes. A avaliação tem sido feita por políticos, empresários e jornalistas. Lula tem repetido propostas de construção de uma nova geografia comercial do mundo, falado da luta pela redução da pobreza e da necessidade de ter voz ativa nos organismos internacionais.

“Lula tornou-se o líder da inclusão social”, disse o presidente da Confederação das Indústrias Indianas (CII), Anand Mahindra, na abertura de um seminário hoje, em Nova Délhi. Lula estava presente como convidado de honra do evento, e falou para cerca de 300 empresários indianos e brasileiros.

No mesmo encontro, o ministro indiano do Comércio, Aaron Jaitley, elogiou o que chamou de “visão de Lula” ao propor uma cooperação Sul-Sul como alternativa às barreiras comerciais impostas pelos países ricos ao mundo em desenvolvimento. “Lula acrescentou uma nova expressão no vocabulário (dos países em desenvolvimento) quando falou de uma mudança na geografia comercial do planeta”, acrescentou o ministro.

Essa também tem sido a análise de vários jornais indianos. “O Brasil, liderado por Lula, percebeu que o único caminho para os países em desenvolvimento manterem algum grau de autonomia em um mundo unipolar é as grandes economias do sul forjarem relações econômicas mais próximas e formularem posições comuns em uma era global”, disse hoje um editorial do “The Hindu”.

O jornal indiano cita as conquistas obtidas pela diplomacia brasileira, como a resistência do G-20 (Grupo de 20 países contrários aos subsídios agrícolas e barreiras comerciais impostas pelos países ricos) nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano passado em Cancún e a criação de um fórum de diálogo do G-3 (Brasil, Índia e África do Sul) para maior cooperação econômica, política e social. “The Hindu” acha que a Índia pode ganhar muito se responder mais positivamente à iniciativa brasileira.

“The Times of India” referiu-se a Lula como “aquele que está impulsionando um eixo alternativo sul-sul em um mundo que até agora só pensou em ligações econômicas de uma forma unidimensional”.

E o americano “The International Herald Tribune”, distribuído também na Índia, observa que os presidentes da América Latina estão procurando o Brasil, e não mais o México, para desempenhar um papel de liderança regional.

No artigo “Em Lula eles acreditam”, o jornal “The Economic Times” faz hoje uma análise crítica da economia brasileira e de suas dificuldades. Segundo o artigo, o Brasil está condenado a crescer a taxas de apenas 3% ao ano por um bom tempo por causa do déficit orçamentário e de ineficiências na administração. O jornal diz que Lula está seguindo a política deixada por Fernando Henrique Cardoso. “Mas em Lula os brasileiros acreditam. Ele é visto como um deles, dada a sua origem trabalhadora”. O artigo conclui que, se um líder tradicionalmente esquerdista conseguir reformar um país como o Brasil e torná-lo próspero, isso terá “grandes implicações” não só para o país, mas também para a região e para a esquerda do mundo. (Fonte: Agência Brasil)