As captações recordes no mercado de capitais e a perspectiva de que o Brasil atinja o grau de investimento nos próximos anos devem fazer com que 2007 seja próspero em operações de fusões e aquisições no mercado local. Essa é a perspectiva dos escritórios de advocacia que comandaram dezenas de operações no intenso ano de 2006, quando mais de 550 transações foram efetuadas.
Para as bancas, as empresas que levantaram dinheiro em ofertas devem protagonizar algumas das aquisições e o interesse de estrangeiros em alguns setores – como o imobiliário – é um prenúncio de consolidações. Além da construção, telecomunicações, alimentos, tecnologia e financeiro estão entre os segmentos que devem passar por mudanças este ano.
Para Francisco Müssnich sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão (BM&A), pelas operações já mandatadas no ano passado e que devem se concretizar em 2007, já se pode ter uma idéia de como será o ritmo. “O Brasil está entrando numa nova etapa do capitalismo. Com essas operações de pulverização do capital e as ofertas públicas, isso abre espaço para muitas coisas que não eram possíveis antes”, diz.
O BM&A participou de mais de 20 operações em 2006, como a que formou o UBS Pactual e a que uniu Submarino e Lojas Americanas. Para o advogado, os setores financeiro e de alimentos ainda podem ter muitos movimentos em 2007. “O setor de aviação também tem muita concorrência das pequenas e pode começar a ter consolidação”, diz ele.
O advogado Robson Barreto, sócio do Veirano Advogados, diz que a lista de empresas que fizeram ofertas públicas no ano passado pode ser um bom indicativo de algumas das protagonistas das aquisições este ano. “É o movimento natural, muito do que ocorreu em 2006 em termos de fusões e aquisições foi movido pela retomada do mercado de ofertas primárias”, observa Barreto. Para ele, no entanto, outro indicativo de consolidações é o interesse dos estrangeiros. “Setores que começam a atrair estrangeiros certamente vão passar por mudanças, é o que está acontecendo por exemplo, no segmento imobiliário”, lembra.
O setor de construção, que é muito pulverizado no Brasil, é tido como alvo certo de uma consolidação nos próximos anos. Até 2005, por exemplo, segundo dados da Embraesp, a incorporadora líder do mercado de São Paulo, Cyrela, detinha 5% do mercado e havia mais de 300 concorrentes no segmento só em SP. Não à toa, é o setor que mais chega à bolsa, o que pode viabilizar troca de ações e outros formatos de fusão e aquisição.
Os setores de tecnologia e telecomunicações também devem ser alvos. Neste último, grandes empresas como Brasil Telecom e Telemig Celular estão à venda e a Telemar já tentou fazer uma pulverização do controle no mercado. Já algumas empresas de tecnologia aproveitaram a janela de liquidez para captar e podem sair às compras.
O sócio do escritório Tozzini, Freire, José Luiz Freire, acredita que setores do agronegócio também podem ter consolidação. “Há o etanol, por exemplo, que está no centro das atenções agora. As usinas de açúcar de álcool são muito pulverizadas e a tendência é consolidar”, prevê. A Cosan, líder do setor que fez sua estréia na bolsa, já tem ido às compras e não esconde que o apetite continua.
O Tozzini, Freire, que se envolveu em mais de 30 operações de fusões e aquisições em 2006, também participou da primeira oferta hostil ou não solicitada do mercado brasileiro, da Sadia pela Perdigão – que passou a ter controle difuso no início de 2006. “As opções vão se sofisticando com a evolução do mercado, isso é um sinal positivo, o caso da Net com a Vivax, no qual foi feita uma troca de ações, é outro exemplo disso”, conclui Freire.