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Davos coloca americanos e europeus em lados opostos

De todos os discursos nos cinco dias do Fórum Econômico Mundial, o mais esperado foi o do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney. Não pelo fato de ser considerado, no universo das corporações e gabinetes executivos, um expoente intelectual, mas sim pelo recado que traria de Washington.

No último ano, a luta entre americanos e ingleses de um lado e europeus continentais do outro, sem falar no presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e sua iniciativa de combate à fome no mundo, sobre a invasão do Iraque foi a chama que esquentou as discussões na fria Davos. Na ocasião, os europeus criticaram fervorosamente a, até então, iminente iniciativa militar EUA-Inglaterra, que se confirmou depois.

Em 2004, segundo a análise de quase todos, Cheney, infelizmente, não surpreendeu. Disse que os Estados Unidos, combatendo o terrorismo, estão no caminho certo. “Deixando o mundo, aos poucos, livre da insegurança, que ainda perturba muita gente”.

Questionado se os Estados Unidos gostariam de construir um império, Cheney categoricamente negou. Mas afirmou que a força militar facilita a diplomacia, principalmente em um momento em que se deve ficar alerta quanto às possíveis iniciativas terroristas.

A reação européia também não causou espanto. Ou seja, mostrou-se contrária ao jeito “bruto” dos Estados Unidos resolverem seus problemas. Pelo menos no discurso, representantes do Velho Continente dizem preferir achar soluções mais participativas para assuntos como o do Iraque, isto é, tendo por premissa fóruns multilaterais, como as Nações Unidas.

No entanto, dois comentários de Cheney podem ter estremecido ainda mais as relações transatlânticas. Ele pediu que a Europa – insatisfeita com o quadro atual – ajude na luta contra o terrorismo e na reconstrução do Iraque. Além disso, minimizou a importância da ONU, dizendo que ela, com esse modelo, não combina com os dias atuais.

Se não bastasse o embate político-diplomático, a economia, pelo menos por enquanto, não será o fator que reaproximará americanos e europeus. O alto déficit em conta corrente dos Estados Unidos, resultado de gastos excessivos e uma queda na arrecadação em virtude de diminuição de impostos, tem provocado a queda da moeda americana.

Com isso, os produtos europeus ficam demasiadamente caros e o estímulo às importações aumenta. Ou seja, fica mais difícil para os exportadores do Velho Continente emplacar suas mercadorias no maior mercado do planeta. Essa situação pode levar o Banco Central Europeu a reduzir as taxas de juros para estimular o consumo e “fazer inflação” para que gradativamente o Euro perca valor e mantenha certa relação de estabilidade com o dólar americano.

Nessas circunstâncias, os europeus têm sugerido que Washington adote uma postura mais firme em relação à política monetária. A dificuldade é que os Estados Unidos vivem um ano eleitoral e essa questão, pelo menos até o momento, parece preocupar muito menos Cheney e seus colegas que Osama Bin Laden e o esfacelamento de grupos terroristas ao redor do mundo. (Fonte: Agência Brasil)