As ações da Cosan (CSAN3), maior produtora de etanol do mundo, que eram ‘queridinhas’ de muitos gestores foram atropeladas na Bolsa depois de expectativas frustradas do mercado que apostava que a ex-senadora Marina Silva (Rede) pudesse vencer a eleição presidencial em outubro de 2014.
Os investidores estimavam que, se Marina vencesse, ações do setor de açúcar e álcool poderiam ser favorecidas por uma preocupação maior do governo com energias renováveis.
Como isso não ocorreu, os papéis da companhia afundaram 62% em um ano – do topo registrado em 1° de setembro de 2014 (quando bateram o maior patamar desde maio de 2013) até 1° de setembro de 2015 (quando fecharam no menor nível desde junho de 2010).
Passada essa derrocada, os papéis seguiram outro rumo: de alta. De setembro do ano passado até agora, as ações já subiram 58%, batendo nesta sessão o maior patamar desde maio de 2015. Mas por que o mercado decidiu mudar de direção com esses papéis? Somente neste mês, de 11 de fevereiro até esta segunda-feira (29), as ações dispararam quase 20% na Bolsa.
No radar da ação, 3 eventos ajudam a explicar essa arrancada, comenta o gestor André Vainer, da Athena Capital.
São eles:
1) resultados melhores do que o esperado da Raízen, companhia energética controlada indiretamente pela Cosan;
2) mudança ano passado no departamento de relações com investidores da empresa; 3) pagamento de dividendos da Comgás em meados de fevereiro.
Segundo Vainer, ainda é um pouco difícil explicar essa arrancada do papel, embora explicações existam, começando pelo business da Raízen, que tem vindo melhor do que o esperado pelo mercado.
A companhia reportou, dia 12 de fevereiro, lucro líquido atribuível aos acionistas controladores de R$ 1,06 bilhão no terceiro trimestre do ano-safra 2016, equivalente ao 4° trimestre no ano calendário de 2015, representando um avanço 238% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Da data do balanço da Raízen até hoje, as ações da Cosan subiram 20%. “O preço do açúcar no segundo semestre de 2015 teve uma alta muito representativa, impactando diretamente os balanços da Raízen e São Martinho. Analistas, em geral, não projetam seis meses atrás um preço do açúcar no patamar que está sendo negociado agora”, comenta Vainer, que tem cerca de R$ 103 milhões sob gestão.
Não só Cosan no setor de açúcar e álcool que tem disparado nos últimos meses. O seu par na Bolsa São Martinho (SMTO3) saltou 76% do fim de agosto até agora, renovando ontem (29) sua máxima histórica.
No balanço, a Raízen disse que seus resultados foram impulsionados pelo maior volume de venda de etanol (com alta de 25%) e pelos melhores preços de produtos vendidos, que também foram impactados pela maior taxa de câmbio no período.
Vainer menciona ainda o aumento do preço do etanol, que vem subindo em meio à revisão para cima nos preços da gasolina pela Petrobras (PETR3; PETR4) no ano passado.
Entre 1° de setembro e 31 de dezembro, o preço médio do hidratado, usado diretamente no tanque dos veículos, subiu 60% na usina de São Paulo, enquanto o do açúcar, 73%, conforme o indicador Cepea/Esalq dos respectivos produtos.
Sob essa maré sucroalcooleira favorável, a anglo-holandesa Shell, que controla a Raízen juntamente com a Cosan, vendeu açúcar a preços 39% mais elevados que um ano antes e etanol, com alta de 21,2%. A maior parte do açúcar exportado em 2016/2017 já está também vendida a preços 25% mais elevados que os da safra atual.
Aliado a isso, expectativa de maior déficit mundial de açúcar, que pode chegar a 5 milhões na safra 2015/2016, tem levado a projeções para aumento dos preços da commodity.
Segundo Rogério Avellar, assessor técnico da Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, a redução na oferta do produto pode acarretar em elevação nos preços. “Com a alta do dólar, os preços reagiram e a saca de 50 kg de açúcar refinado, que no mercado interno, era vendida a R$ 46, hoje está valendo R$ 80”.
Fonte: (InfoMoney)