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Incerteza sobre mercado de etanol afeta as destilarias autônomas, diz diretor de unidades do PE

Maranhão: falta de definições pelo governo impede planejamento pelo setor
Maranhão: falta de definições pelo governo impede planejamento pelo setor

Para Carlos Henrique Maranhão, diretor da Destilaria Liberdade, do Grupo Cachool, localizada no município de Escada (PE), apesar de a safra 2016/17 acenar com preços remuneradores para o etanol e para o açúcar, esse cenário não é compartilhado pelas destilarias autônomas, exclusivas para a fabricação de biocombustível.

A Liberdade integra o grupo de destilarias autônomas, que em todo o país integra 80 unidades.

Leia a seguir entrevista de Carlos Maranhão concedida ao diretor da Procana, Josias Messias, empresa controladora do Portal JornalCana

Maranhão: falta de definições pelo governo impede planejamento pelo setor
Maranhão: falta de definições pelo governo impede planejamento pelo setor

Como o sr. avalia o mercado de biocombustíveis no Brasil? 

Carlos Maranhão – Falta clareza [do governo em indicar] qual a direção do mercado de biocombustíveis no longo prazo. É preciso saber quais as medidas a serem tomadas pelo governo para o produtor saber o que fazer, que caminho tomar para fazer um planejamento.

Até para vocês, já que no caso da Liberdade ela é uma destilaria autônoma, ou seja, só tem opção de fazer etanol ou cachaça. Mas a cachaça tem um mercado restrito, e depende muito do etanol.

Carlos Maranhão – Exatamente. A gente já teve no passado problemas de ter volume de etanol carburante produzido e não ter mercado. Hoje, com o preço do petróleo muito baixo, a gente não sabe como irá seguir para frente a questão dos preços dos combustíveis.

Com o atual cenário, não dá para confiar para onde vão os preços.

Carlos Maranhão – Não dá para confiar. No começo de fevereiro, o barril de petróleo chegou a ser vendido abaixo de US$ 27, enquanto custava US$ 140 há um ano e meio. A gente não sabe como o mercado irá se comportar e que tratamento o governo irá dar para o setor de biocombustíveis, que é tão importante para o Brasil.

Como está a safra 2015/16 da Destilaria Liberdade?

Carlos Maranhão – Houve melhora nos preços dos produtos. Ocorreu uma seca grande e ficamos muito preocupados [com a oferta de cana-de-açúcar para] a safra 2016/17. Mas houve bons rendimentos no fim de 2015 e tivemos muita chuva durante um mês, a partir do fim de dezembro, que atrapalhou a moagem. Mas acredito em bons preços para o etanol nos próximos anos, apesar da insegurança do empresário diante a falta de clareza da política econômica.

Qual sua avaliação da safra de cana no estado de Pernambuco [onde moeram 15 unidades]?

Carlos Maranhão – Houve redução muito grande na produção. Para recuperar, são necessários vários anos para o empresário investir e ter retorno. É preciso ter uma segurança maior.

Já que não é possível controlar as externalidades do mercado, qual é o foco de gestão?

Carlos Maranhão – Diminuição de custos, investir no corte mecanizado da cana em Pernambuco. Hoje, nas duas unidades [Liberdade e Usina Estreliana], o corte mecanizado chega a 30% do total. Por essa mecanização, a cana vai inteira para a unidade.

Fale mais a respeito, por favor

Carlos Maranhão – Incluindo equipamentos de proteção (EPIs) e ônibus, o corte manual custa R$ 24/tonelada. Com a máquina, gira em torno de R$ 5 a R$ 6. A economia chega a R$ 18.

Que mais?

Carlos Maranhão – O desafio é usar a máquina para cortar cana em declive mais acidentado. Ela vai até 16 graus. Mas houve avanço do corte mecanizado. Estamos em 30% e o desafio é chegar aos 100%.

E em termos de qualidade da matéria-prima?

Carlos Maranhão – Há uma piora na qualidade da matéria-prima, porque a cana é inteira e queimada e na hora da colheita piora com a impureza mineral. Tivemos alguns problemas com a caldeira, porque sempre fica alguma palha com o corte, e fica como vassoura que traz impurezas minerais. O desafio é mecanizar e ter qualidade na matéria-prima.

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Isso afetou também a fermentação, mais no caso da Liberdade?

Carlos Maranhão – Sim. A fermentação também foi afetada por algas surgidas a p

artir do aumento da temperatura de rios. Isso atrapalhou o funcionamento da destilaria.

Como vai a safra?

Carlos Maranhão – Na safra 14/15, foram moídas pouco mais de 940 mil toneladas de cana na Usina Estreliana. Nesse ano, moemos 300 mil e poucas toneladas. Resolvemos parar a moagem porque houve muita chuva. Já a unidade Liberdade terá a mesma safra [comparada a anterior], com moagem de em torno de 450 a 500 mil toneladas.

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