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Fórum de Davos começa hoje entre a esperança e a incerteza

No que depender das perspectivas do serviço metereológico suíço, a 34ª edição do Fórum Econômico Mundial (FEM), na pequena cidade de Davos, será aberta nesta quarta-feira sob muita neve e temperaturas próximas a zero. Apesar de paradoxal, é nesse clima de extremo frio que os organizadores do evento pretendem que o gelo entre emissários europeus e americanos seja quebrado definitivamente.

O principal motivo que desuniu esses parceiros em 2003 – bombardeio ou não do Iraque e retirada de Saddam Hussein do poder – faz parte do passado. Além disso, recentes episódios conspiram a favor do FEM. Entre eles, a retomada de negociações de paz envolvendo o Paquistão e a Índia e o anúncio de que o coronel Muamar Kadafi, da Líbia, desistirá de investir no programa de armas de destruição em massa.

No entanto, nem só de bons fluidos vive Davos. A recuperação sustentável da economia mundial ainda não é certeira. A expectativa de que os Estados Unidos, como no fim dos anos 90, funcionem como a locomotiva do planeta, puxando os outros vagões, tem deixado ansiosos empresários e governos de todos os continentes. Nos últimos meses do ano passado, a produção dos EUA ganhou fôlego e o desemprego apresentou ligeiro arrefecimento. Por outro lado, o valor das “notas verdes” vem caindo, com o estrondoso déficit nas contas públicas, e isso pode obrigar o Banco Central Americano (FED) a elevar as taxas de juros para controlar a inflação.

Essa possibilidade assusta principalmente os países pobres. Se isso acontecer, os recursos de mega-investidores podem voltar para onde estavam. Ou seja, deixar o Sul – entre eles o Brasil – e buscar abrigo nas Bolsas americanas, mais seguras e que ficarão mais atrativas aos olhos dos que têm dinheiro.

A Europa, por sua vez, ainda aprende a lidar com a supervalorização do Euro. Esse fenômeno desestimula as exportações da região, uma vez que os produtos ficam caros, e incita as importações. Desse modo, a balança comercial dos países integrantes do bloco econômico torna-se deficitária, o que tem provocado um surto de discussões na tentativa de equacionar o problema.

A questão é que ele não se encerra em números que indicam azul ou vermelho nas contas do comércio. Quem compra mais do que vende, gera desemprego e aumenta os gastos com benefícios e seguros. O Brasil está de olho no assunto porque qualquer sobressalto pode interferir nas contas externas que em 2003 tiveram seu melhor momento, com saldo recorde.

Outro fator que pode provocar instabilidade em Davos e arranhar a pintura do rico encontro na Suíça e, por tabela, a da globalização são as persistentes fraudes contábeis em empresas gigantes, do porte das que patrocinam o Fórum Econômico Mundial. O que aconteceu com a Enron, a MCI, controladora da Embratel, e com a Worldcom, no ano de 2001, é um pesadelo que não cessou. Até mesmo porque a Parmalat, no fim do ano passado e agora, alimenta esse temor. O que se verá, portanto, em Davos, nos próximos cinco dias, são os teóricos da globalização dos anos 90 tendo de aperfeiçoar o “latim” para convencer a todos de que o modelo econômico ainda é o melhor para o mundo.

De acordo com o reitor da escola de negócios da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Jeffrey Garten, a tarefa central de Davos não será persuadir os inimigos da globalização, mas sim os próprios “apoiadores” do sistema, que, nos últimos anos, têm ficado desgostosos com os resultados obtidos. (Fonte: Agência Brasil)

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