A desaceleração da economia brasileira está “segurando” o repasse, ao consumidor final, da alta de preços do etanol verificada nas usinas. Desde setembro, os preços do hidratado (usado diretamente no tanque dos veículos) nas usinas de São Paulo subiram 62%, conforme o indicador Cepea/Esalq. No mesmo intervalo, a alta média nos postos do Estado foi de 41%, quase 20 pontos percentuais a menos. Nas últimas quatro semanas, o hidratado subiu, em média, 3,26% nas usinas e 1,26% ao consumidor final.
“Há um encolhimento de margens nos outros elos da cadeia [distribuidoras e postos]. Está havendo uma dificuldade de repassar mais reajustes de preços ao consumidor final”, afirmou Vitor Andrioli, especialista em etanol da consultoria FCStone.
Apesar de o repasse não ter chegado ao motorista em toda a sua magnitude, os preços do hidratado estão elevados nos postos. Em novembro, superaram em todos os Estados brasileiros (mas, principalmente, em São Paulo) 70% do preço da gasolina – o que torna o biocombustível menos atrativo ao motorista do que o derivado fóssil, conforme parâmetro mais aceito pelo mercado.
O consumo de hidratado de janeiro a dezembro de 2015 foi recorde. Atingiu 17,8 bilhões de litros, com aumentos de 37,5% frente a 2014 e de 8,45% em relação ao recorde anterior, de 2009 (16,4 bilhões de litros), conforme dados da ANP. Na maior parte do ano, os preços do biocombustível estiveram mais vantajosos que os da gasolina ao motorista dos principais Estados consumidores, como São Paulo, Goiás, Paraná e Minas Gerais. Começaram a subir com força em setembro, e em outubro atingiram o maior volume mensal da história (1,750 bilhão de litros).
Nos meses de novembro e dezembro, a demanda mostrou sinais de resiliência, apesar dos preços mais altos nos postos, e manteve o ritmo de dois dígitos de crescimento em relação aos mesmos meses do ano anterior.
Em janeiro, os sinais de arrefecimento do consumo foram mais evidentes. A ANP ainda não divulgou seus dados referentes ao mês passado, e, por ora, o mercado se baseia em informações da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Conforme a entidade, o volume total de etanol hidratado vendido pelas usinas do Centro-Sul às distribuidoras recuou 10,5% em relação a dezembro, para 1,26 bilhão de litros.
“Agora em fevereiro, as distribuidoras estão comprando muito pouco etanol das usinas. Mas não dá para saber ainda se elas estão usando estoques que já tinham ou a demanda está, de fato, caindo bastante neste mês”, disse um trader. A expectativa do mercado, no entanto, é a que a demanda mensal diminua para patamares de 1,1 bilhão de litros em fevereiro e em março.
Apesar do aumento do consumo de hidratado em 2015, a demanda por gasolina sofreu uma retração de 7,3%, para 41,1 bilhões de litros, conforme a ANP. Com isso, o consumo total do chamado “Ciclo Otto”, que considera gasolina e etanol equivalente (o etanol tem um rendimento energético equivalente a 70% do da gasolina), foi de uma leve alta de 0,3% em 2015, de acordo com cálculos da FCStone. Para 2016, essa demanda deve recuar 3%, conforme previu em janeiro deste ano a Copersucar, a maior trading de etanol do mundo.