O recolhimento da palha da cana-de-açúcar para ampliar a produção de eletricidade cogerada em usinas sucroenergéticas tem esbarrado em pelo menos dois grandes problemas. Leia mais a seguir.
O primeiro dos problemas de operacionalização da palha da cana-de-açúcar é o recolhimento em si, que exige aperfeiçoamentos e leva para a indústria uma palha com impurezas vegetais e minerais altamente preocupantes para os equipamentos industriais.
O Portal JornalCana apurou que usinas de cana-de-açúcar do interior paulista avaliam entre 13% a 15% a média de impurezas de palha por tonelada que chega à indústria.
“É um problemão”, afirma executivo de uma usina de moagem de 4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar que pediu omissão do nome.
Executivos de pelo menos cinco usinas sucroenergéticas consultados pelo Portal JornalCana revelam que farão campanhas internas para tentar conter a entrada de altos índices de impurezas com a palha. Essas campanhas já foram aplicadas na entressafra e o público-alvo são principalmente os operadores de colhedoras e de demais equipamentos ligados ao CCT.
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Baixo preço
O segundo problema de peso que afeta a palha da cana-de-açúcar é a baixa remuneração paga pela eletricidade vendida pelas usinas sucroenergéticas. Geralmente essa energia elétrica é comercializada no mercado spot, que tem como teto de preço o valor do Preço da Liquidação das Diferenças (PLD).
O PLD é o indicador da venda de eletricidade da biomassa da cana no spot e tem cotação semanal. Nesta semana, até a sexta-feira (15/01), o megawatt-hora (MWh) tem teto de R$ 35,76.
“Diante esse preço, não há como investir no emprego da palha para ampliar a produção de eletricidade dentro da usina”, confirma para o Portal JornalCana o diretor de usina paulista de moagem de 4,5 milhões.
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Venda de palha
Frente a um cenário no qual os preços da venda no spot devam continuar em baixa, por conta da baixa demanda por compra de eletricidade, executivos de usinas de cana-de-açúcar buscam estratégias para dar um fim remunerador para a palha da cana.
É preciso lembrar que apenas pequena parte das 400 usinas de cana em operação no País já empregam o recolhimento da palha.
Entre as estratégias dos executivos está a de recolher a palha, mas não emprega-la na produção de energia junto com o bagaço. A estratégia, aqui, é vender a palha para queima em unidades industriais de outros setores.
“Com o preço atual [pago pela energia cogerada], nossa ideia de vender palha para a indústria de suco de laranja”, revela Roberto Holland, diretor superintendente da Usina São José da Estiva, localizada em Novo Horizonte (SP).
A Estiva está situada em região próxima de indústria de suco de laranja.
Segundo Holland, para essa comercialização compensar, além de ter preço remunerador será preciso contrato de venda com prazo definido. Geralmente a venda da eletricidade da Usina São José da Estiva no spot tem contratos de dois a três anos de duração.
O Portal JornalCana apurou que no mercado a tonelada de palha entregue na planta industrial consumidora gira entre R$ 100 a R$ 120 neste mês de janeiro.
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Garantir oferta
Outra alternativa das usinas sucroenergéticas, diante os baixos preços pagos pela eletricidade cogerado, é utilizar a palha para garantir a oferta de biomassa na unidade termelétrica.
Essa estratégia já é adotada por usinas paulistas. E funciona assim: principalmente em períodos de chuvas, a térmica usa primeiro a palha e deixa o bagaço estocado. O bagaço pode ficar armazenado por até três anos e seu problema é a umidade, com uma taxa de 50%.
Com o uso primeiro da palha, a usina mantém o bagaço para ser processado em outros dias. E, assim, a térmica não corre o risco de sofrer interrupções de produção.