O protecionismo americano no setor do açúcar sempre foi prejudicial para as exportações brasileiras e, como conseqüência, para a criação de empregos no País. Mas um estudo feito pelo próprio governo dos Estados Unidos admite: os subsídios e tarifas altas para o açúcar geram desemprego para a economia americana.
Segundo uma avaliação feita pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, esse protecionismo tem gerado um aumento no preço do açúcar no mercado americano. Como conseqüência, as empresas que dependem do produto como matéria-prima acabam tendo que sair dos Estados Unidos e operar a partir de países onde o açúcar é menos protegido e, portanto, mais barato. O resultado foi a perda de dez mil postos de trabalho nos Estados Unidos na indústria de doces e chocolate desde 1997.
Agricultores e lobbistas que defendem o protecionismo alegam que sem essas medidas, o setor açucareiro nos Estados Unidos sofreria perdas econômicas diante da concorrência internacional e acabaria tendo de demitir parte de seus trabalhadores.
Mas de acordo com o levantamento, para cada emprego salvo no setor agrícola, quase três são perdidos na indústria de doces. Isso porque, com as barreiras, os produtores de açúcar dos Estados Unidos podem colocar seus produtos no mercado com um preço bem superior à média mundial, sem concorrer contra o açúcar importado. Em 2004, por exemplo, o valor internacional do açúcar era 10,9 centavos de dólar por cada 450 gramas. Nos Estados Unidos, as empresas eram obrigadas a pagar 23,5 centavos.
O resultado tem sido a fuga de várias empresas, principalmente para o Canadá e para o México, onde o açúcar é mais barato, reduzindo os custos de produção em quase 50%. Agora, até a Casa Branca concorda que protecionismo precisa acabar para que a indústria seja competitiva. O obstáculo, porém será conseguir enfrentar o lobby do açúcar no Congresso americano, já que vários deputados são eleitos exatamente para proteger os empregos no campo.
Mas esse lobby começa a ser questionado. Principalmente porque, no total, 987 mil pessoas trabalham na indústria de chocolate e de doces, enquanto 61 mil agricultores estão no campo plantando cana de açúcar e beterraba. No ano passado, o Brasil ganhou uma disputa contra europeus na Organização Mundial do Comércio (OMC) que julgou o protecionismo e subsídios de Bruxelas para o açúcar como ilegais. Na época, a americana Mars, maior empresa de chocolate do mundo, anunciou que apoiava o Brasil no caso. O Itamaraty, porém, nunca chegou a questionar as medidas americanas para o setor. (AE)