Com a remuneração do açúcar abrindo vantagem sobre a do etanol, as primeiras percepções sobre a próxima safra no Centro-Sul do Brasil, a 2016/17, que começa em abril, já indicam que as usinas brasileiras, maiores exportadoras globais da commodity, tendem a seguir os preços e fabricar mais açúcar no ano que vem.
Mas essa “inclinação açucareira” não é vista com bons olhos pela Copersucar que, juntamente com a americana Cargill dirige a maior trading global da commodity, a Alvean, com movimentação superior a 15 milhões de toneladas – 27% de todo açúcar exportado no mundo.
Para o presidente do conselho de administração da companhia brasileira, Luís Roberto Pogetti, se prevalecer a racionalidade econômica, as usinas do Centro-Sul deveriam continuar priorizando a produção de etanol, que também não fica muito atrás do açúcar, com uma remuneração há tempos não vista no setor. A Copersucar também é a maior trading de etanol do mundo.
O seu ponto é que ainda existe um estoque elevado de açúcar no mundo – 85 milhões de toneladas, o suficiente para abastecer a demanda por seis meses. E que, se o mercado tiver a percepção de que o Brasil vai fazer muito mais açúcar no ano que vem, poderá haver uma reação negativa para as cotações – que só agora começaram a esboçar um impulso importante, após cinco anos de consecutivas depreciações.
O açúcar, que somente em outubro se valorizou 10% na bolsa de Nova York – e em novembro já acumula alta de 1,2% -, de fato está trazendo uma remuneração maior às usinas, reconheceu o executivo da Copersucar. “Mas é preciso ter em mente que o fundamento é de estoque global ainda elevado”, observa.
Em 1º de outubro começou a safra global 2015/16, com potencial de ser a primeira temporada de déficit global, após cinco de ciclos de sobras. Mas, Pogetti observa que o ano-safra só está começando, e não há consenso de que será um déficit. “Se nesse cenário, houver um aumento da produção brasileira, pode haver uma reação para baixo nas cotações”.
O déficit que se desenha no mercado para o atual ciclo mundial, se sustenta, em grande parte, na força do mercado de etanol no Brasil que, em meia década “enxugou” em 5 milhões de toneladas a oferta de açúcar no Brasil. Ainda que o consumo do biocombustível esteja elevado no país e os preços altos, alguns traders estimam que as usinas do Centro-Sul vão adicionar no ano que vem ao menos 2 milhões de toneladas à produção regional.
Daqui até a tomada de decisão sobre o que será produzido em 2016/17 no Brasil, há pela frente ao menos quatro meses. Pesa a favor do etanol, conforme o executivo, o fato de as usinas brasileiras ainda estarem com dificuldades de caixa. Diferentemente do açúcar, o etanol é um produto cuja comercialização gera caixa praticamente imediato às usinas produtoras.
Já para a atual temporada no Centro-Sul, a 2015/16, o presidente do conselho da Copersucar não vê nada de diferente do que já foi divulgado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). A moagem está “dada”, segundo ele, com um volume entre 595 milhões e 600 milhões de toneladas. O montante já considera o volume que será processado na janela não convencional da safra, ou seja, no fim de dezembro, janeiro e fevereiro.
Mesmo com esse prolongamento da moagem, não haverá tempo suficiente para realizar antes de março todo o volume de cana disponível hoje nos canaviais do Centro-Sul. “Vai sobrar desta para a próxima safra um volume entre 30 milhões e 40 milhões de toneladas de cana”. A próxima temporada, no entanto, deve começar o quanto antes. “O preço do etanol está alto, o que vai estimular as usinas a religarem as máquinas bem antes de abril; ainda nos primeiros dias de março”.
Fonte: (Valor)