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Os preços do açúcar continuam a...

A State Corp diz que a alta do petróleo está ampliando a demanda por combustíveis alternativos como o etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar. Quando os preços do petróleo começam a subir, o Brasil converte uma parcela maior de sua safra de cana-de-açúcar em etanol – reduzindo a produção de açúcar, que tem seus preços aumentados. Os altos preços das commodities estão gerando superávits recorde para o Brasil, o maior produtor mundial de açúcar.

“Com os preços do petróleo de volta a níveis próximos do recorde, dá para apostar que os brasileiros aumentarão sua produção de etanol”, disse Harvinder Kalirai, chefe do departamento de pesquisa e análise da State Street de Sidney, na Austrália. “Isso significa que haverá menos açúcar refinado disponível e que os preços subirão”.

Eles estimam que o dólar chegue a R$ 2,20 nos próximos quatro meses, disse Carlin Doyle, estrategista do setor de mercados emergentes da State Street em Londres, em entrevista concedida na semana passada.

Enquanto outros setores da economia culpam o dólar pelo fraco desempenho e rentabilidade de suas vendas externas, o mesmo não se pode dizer do açúcar, que vem sendo sustentado pela alta dos preços internacionais. Ontem os contratos para maio foram negociados a 17,72 centavos de dólar a libra-peso na bolsa americana.

McDougall diz que os preços atingiram tais níveis atualmente que nem mesmo as usinas brasileiras querem fixar suas posições de açúcar para a próxima safra.

“Usinas em todo o mundo têm preocupações demais tentando bancar os ajustes diários de contratos antigos, e por isso muitas sequer pensam em se aventurar em fixar contratos da safra 2006/07”, diz o corretor.

Estima-se que as usinas brasileiras estão gastando entre US$ 250 milhões e US$ 550 milhões para bancar o ajuste diário dos contratos de açúcar em Nova York. As usinas fixaram os contratos quando o açúcar estava cotado entre 8,5 e 12 centavos de dólar a libra-peso. Hoje o mesmo contrato vale 17 centavos e as usinas precisam depositar a diferença diariamente – o chamado “ajuste de margem” – na bolsa americana.

As indústrias estariam usando dinheiro de caixa e algumas estariam recorrendo a financiamentos bancários para sustentar suas posições. “Muitas usinas brasileiras decidiram suspender a fixação de contratos de açúcar da safra 2006/07 porque ninguém sabe onde o mercado vai parar”, diz McDougall.

O resultado é que a oferta de açúcar no mercado futuro é muito restrita, o que está forçando as indústrias de alimentos e bebidas a pagar o preço. “A alta dos preços do açúcar foi rápida e surpreendente. Muitas indústrias mantinham baixos os estoques de açúcar”, afirmou.

R$ 1,2 bilhão para álcool

As indústrias calculam que seria necessário perto de R$ 1,2 bilhão para manter estoques reguladores de álcool combustível, a fim de evitar uma disparada dos preços durante a entressafra (dezembro a março), a exemplo do que acontece desde o final do ano passado.

Os recursos seriam suficientes para armazenar 1,5 bilhão de litros de álcool, o correspondente a um mês e meio de consumo. O setor também pede redução dos impostos que incidem sobre a estocagem do produto. “Estamos apenas debatendo o tema. Nada foi decidido”, diz Luiz Carlos Carvalho, presidente da Câmara Setorial do Açúcar e Álcool, que reúne representantes dos setores público e privado.

Os recursos viriam da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), imposto recolhido sobre as vendas de combustíveis. A linha teria juros de 11,5% ao ano, inferiores aos de mercado. “O ideal é que os recursos estejam disponíveis já em março, durante a safra”, diz Carvalho.