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Principal meta era evitar alta da gasolina

Ao fechar acordo com os usineiros sobre o preço cobrado pelo álcool, na quarta-feira, o governo estava mais preocupado com a gasolina, que tem peso quatro vezes maior no IPCA (índice oficial de inflação) do que o combustível derivado da cana-de-açúcar.

Dessa forma, toda a discussão com os produtores girou em torno do teto para o álcool anidro, que é misturado à gasolina na proporção de 25%. Aumentos no preço desse tipo de álcool influenciam diretamente o valor cobrado pela gasolina, que por sua vez tem forte impacto na inflação.

Durante a reunião, o governo considerou desnecessário detalhar se o preço valia tanto para o álcool anidro como para o hidratado (usado diretamente nos automóveis), por dois motivos. O principal deles é que o álcool anidro custa mais do que o álcool hidratado, historicamente, por uma razão simples: o anidro contém mais álcool. O álcool hidratado contém aproximadamente 6% de água.

Além disso, o aumento do consumo de álcool hidratado nos últimos anos aconteceu por conta do crescimento da frota de automóveis bicombustíveis. Essa demanda é muito sensível ao preço do álcool hidratado nos postos, que só se torna interessante para o motorista se chegar a, no máximo, 70% do preço da gasolina. Acima disso, os donos de automóveis bicombustíveis optam por usar gasolina, o que reduz a procura por álcool hidratado, levando o preço para baixo.

Antes do fechamento do acordo com o governo, o álcool anidro estava cotado a R$ 1,08 nas usinas e o hidratado, a R$ 1,03. Isso significa que, se for respeitado o teto de R$ 1,05 para o anidro e a diferença média de preço entre um tipo de álcool e outro se mantiver, o álcool hidratado deverá custar aproximadamente R$ 1,00 na usina.

Isso poderá ser verificado no meio da semana que vem, quando os resultados dos contratos de compra e venda de álcool feitos após o acordo começarem a ser tabulados. “Ninguém vai comprar álcool hidratado a preço de álcool anidro”, afirma Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo).

O Ministério da Agricultura estimou os preços do álcool hidratado na usina entre R$ 0,95 e R$ 1,00. “Supõe-se que o bom senso do setor mantenha o preço neste nível”, afirmou o diretor do Departamento de Cana-de-açúcar e Agroenergia do Mapa, Ângelo Bressan.

Ontem, o Ministério da Agricultura apresentou dados da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) que mostram que o álcool hidratado tem um deságio de 5% a 15% em relação ao anidro. Na próxima semana, representantes da Agricultura e do Ministério de Minas e Energia se reúnem com o setor de distribuição e revenda de combustíveis para debater as margens de lucro na comercialização de álcool.