O mal-estar gerado pela alta no preço do álcool põe em risco a conquista de mercados externos, onde o produto começa a despontar como vedete entre as alternativas estudadas pelos países para reduzir a emissão de gás carbônico. A exportação do produto está em ritmo ascendente, graças às características do produto, considerado um combustível limpo. Para Suzana Kahn, professora de Engenharia de Transportes da Coordenadoria de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), o problema veio num momento delicado e ameaça até derrubar o Brasil da liderança na produção mundial de álcool.
– No momento em que a demanda mundial pelo álcool cresce e despontamos como o maior produtor do planeta, um problema de safra expõe a fragilidade do nosso planejamento agrícola. Não houve catástrofe que justificasse isso, as condições estavam absolutamente dentro da normalidade. Isso assusta o estrangeiro, que pode optar por outros fornecedores, entre os quais países asiáticos, como a Tailândia, e até mesmo os Estados Unidos, segundo maior produtor mundial.
Para Suzana, a questão do preço do álcool combustível, em um momento de franca expansão da venda de carros bicombustíveis, reproduz o cenário vivido pelo país no fim da década de 80.
– Naquela época, 90% dos carros novos vendidos no país eram movidos a álcool. O preço do produto disparou, após a notícia de uma quebra de safra que envolvia a suspeita de desvio da cana-de-açúcar para a produção de açúcar. Não temos elementos ainda para dizer se é isso que está ocorrendo. Mas se os produtores optaram por esse caminho para forçar a alta, acredito que será um tiro no pé. Depois da crise no fim dos anos 80, o produto levou 15 anos para ter sua imagem refeita e isso tornaria a destruí-la.