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Koblitz quer o dobro em 5 anos

Executora de projetos e geradora de energia advinda de fontes alternativas e renováveis, a Koblitz, na esteira do momento incerto que o País vive em relação ao setor elétrico, quer dobrar seus negócios nos próximos cinco anos. A empresa inaugurou, no fim do ano passado, um escritório em São Paulo, e pretende intensificar ainda mais sua atuação nas regiões Sul e Sudeste, cujos negócios já representam, em valores, 70% do total fechado pela companhia. A Koblitz também pretende intensificar suas atividades no exterior. A empresa já fechou seu primeiro contrato para a construção de usinas na Itália, e a expectativa é de que as vendas externas passem a representar 30% dos novos negócios em 2010, diante de um quadro atual que não ultrapassa 5%.

“Estamos cada vez mais sendo procurados por grandes empresas interessadas em produzir energia para consumo próprio, diante das dificuldades encontradas via leilões, além do temor cada vez mais crescente de um racionamento ao fim desta década. Esse é um dos fatores nos quais nos baseamos para fazermos essa previsão de crescimento”, explica o diretor industrial, Romero Rego.

A empresa ainda não fechou os dados referentes a 2005, mas a estimativa do executivo é de que o crescimento fique entre 15% e 20%. Para 2006, a meta é crescer algo em torno dos 10%. Um dos pilares desse crescimento certamente será a demanda de projetos do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa). Atualmente, a Koblitz é responsável pelo desenvolvimento de 31 projetos do programa, sendo 25 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e seis usinas que utilizarão biomassa como fonte de produção.

“Se levarmos em conta que conquistamos a execução de boa parte dos projetos, as perspectivas para 2006 são muito positivas. Existem pelo menos 30 projetos já liberados, cuja execução ainda não foi contratada”, afirma Rego.

Em alguns desses projetos, a empresa atuará como sócia na operação da unidade. Esse tipo de participação vem se tornando rotina para a Koblitz desde 1998, quando a companhia entrou com uma participação de 10% no projeto de autogeração da fábrica da Coca-Cola em Suape, Pernambuco, a partir da utilização do gás natural. Atualmente, a empresa detém participação em 17 centrais geradoras de energia, sempre baseadas em fontes renováveis.

“A capacidade total de geração desses projetos gira em torno de 350 megawatts (MW). Nossa estratégia é participar sempre minoritariamente do máximo de projetos possíveis. É uma forma de alavancar nossa fábrica e engenharia”, ressalta o diretor. Entre as seis PCHs com previsão de entrega para este ano, duas (Buriti e Canoa Quebrada) terão essa participação minoritária por parte da Koblitz.

No final de 2005, a empresa desmembrou sua unidade em Piracicaba, interior de São Paulo, em duas. A unidade fabril foi transferida para São José do Rio Preto, também no interior de São Paulo, e um escritório central foi inaugurado na capital paulista. A matriz da empresa encontra-se em Recife (PE).

“Estrategicamente, São José do Rio Preto é mais vantajoso, principalmente em função de sua estrutura. A ida para São Paulo visa estreitar nossa rede de relacionamentos, além da intensificação comercial no Brasil. Começamos pelo Nordeste, mas hoje em dia atuamos no Brasil todo”, destaca Romero Rego.

Amazônia

Um desses projetos espalhados pelo Brasil encontra-se na Amazônia. A empresa tem participação de 20% em uma térmica movida a resíduos de madeira, com capacidade de geração de 9 MW, localizada junto a uma madeireira que faz o manejo sustentável das árvores exploradas em uma área específica local.

O maior percentual de negócios da Koblitz ainda é o setor sucroalcooleiro, ramo originário dos negócios da empresa. O setor ligado à cana-de-açúcar é responsável por 40% dos projetos desenvolvidos, seguido pela Produção Independente de Energia (PIE) por parte de empresas ligadas ao setor industrial, e pelos projetos de biomassa e eólica, com 30% cada.

No exterior, a Koblitz mantém negócios na América Latina (Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru e Cuba), África (Nigéria) e, recentemente, na Itália. A companhia fechou contrato com a empresa italiana Celtica Engineering para a construção de centrais de co-geração de energia utilizando fontes alternativas. Com duração de cinco anos, o contrato prevê a implementação de dois projetos anuais que tenham uma potência instalada de, no mínimo, 20 MW/ano. Até agora, foi acertada a construção de três unidades, duas de 5 MW e uma de 10 MW.

“Em 2002, criamos uma diretoria voltada para o exterior, que vem mapeando as principais oportunidades de negócios. Os contratos no exterior são uma forma de minimizarmos riscos de uma eventual sazonalidade do mercado interno”, explica Rego.

Nascimento ligado ao setor sucroalcooleiro

Criada em 1975, durante o boom da produção sucroalcooleira no Brasil, a Koblitz foi ligada, durante boa parte de sua história, a projetos ligados a este setor. A empresa foi pioneira na utilização de recursos naturais renováveis como fonte de energia. Inicialmente, a capacitação da empresa permitia apenas prestar assessoria a projetos para a transformação do bagaço da cana-de-açúcar em energia. Com o tempo, a empresa foi desenvolvendo seus serviços, passando a elaborar os projetos de geração de energia, participar da execução, e ser responsável pela montagem e fabricação dos componentes das unidades.

No início dos anos 80, a Koblitz inaugurou sua primeira fábrica, em Recife. Os negócios fechados nessa época eram concentrados basicamente na região Nordeste. Em função da sazonalidade da safra de cana-de-açúcar, a empresa decidiu se instalar na parte Sul do País, inaugurando, em 1987, mais uma fábrica, localizada em Piracicaba (SP). A partir daí, a Koblitz passou a desenvolver projetos ligados a outros setores, como mineração, metalurgia e petróleo e gás, realizando os primeiros projetos utilizando biomassa como fonte energética.

No início dos anos 90, os projetos de fontes alternativas foram ficando cada vez mais diversificados. Entre os programas pioneiros, estão o da utilização da soja, iniciado em Caramuru (GO), e de casca de arroz. Em 1996, com as privatizações no setor elétrico e a abertura dos segmentos de geração, transmissão e distribuição a empresas privadas, houve um boom de negócios envolvendo as fontes alternativas. Entre os diversos projetos desenvolvidos nessa época junto a produtores independentes de energia, estão a criação de usinas de açúcar e álcool, fábricas de alimentos, bebidas, cimento, madeira, óleos vegetais, empresas de beneficiamento de arroz e papel, entre outros. A produção de energia era propiciada pela otimização de processos e aproveitamento de resíduos como combustível.