Empregado em países europeus como a Alemanha, o biometano chega às usinas sucroenergéticas brasileiras.
É um produto que pode ajudar o caixa das companhias produtoras de açúcar e de etanol, penalizadas nos últimos anos por crises como a da manutenção do preço da gasolina por cinco anos seguidos.
Apenas no estado de São Paulo, cerca de 20 usinas de cana estão na mira da GasBrasiliano, empresa da Petrobras que compra o biometano. Mas dá para confiar em uma empresa da Petrobras?
A Usina Malosso, de Itápolis (SP), é a primeira unidade produtora de açúcar e de etanol do Brasil a oficializar parceria pela qual qual fornecerá biometano.
O acordo foi oficializado na quarta-feira (26/08), durante a Fenasucro & Agrocana entre a diretoria da companhia sucroenergética, um grupo de investidores responsáveis pelo projeto (representado pela CRXavier Consulting Bioenergia) e a empresa GasBrasiliano, concessionária de gás em 375 municípios paulistas e que pertence à Petrobras.
Pelo acordo, a partir de 2017 a Usina Malosso fornecerá biometano obtido da vinhaça, resíduo do processamento da cana-de-açúcar, a ser transformado em combustível semelhante ao gás natural e que será injetado na rede de gasoduto administrado pela GasBrasiliano.
A unidade produtora de açúcar e de etanol não perderá um litro da vinhaça, empregada, como nas demais companhias do setor, no processo de fertirrigação. E será sócia do empreendimento, a ser constituído como Sociedade de Propósitos Específicos (SPE), ao lado do grupo de investidores.
Esse grupo, segundo Carlos Roberto Xavier, diretor da CRTXavier, assume os investimentos do empreendimento, orçados em R$ 16 milhões, e fará a operacionalização dos processos. A Malosso entra com a matéria-prima e cessão do espaço físico para as instalações.
Segundo Xavier, uma unidade como a Malosso, que deverá moer 980 mil toneladas de cana-de-açúcar nesta safra 2015/16, gerará 25 mil metros cúbicos diários de biometano.
O projeto terá capacidade de produzir anualmente 5 milhões de metros cúbicos de biometano por meio da purificação do biogás gerado a partir da vinhaça e será comercializado juntamente com o gás importado da Bolívia, que é a principal matéria-prima fornecida hoje pela GasBrasiliano.
Segundo o diretor-presidente da companhia, Walter Fernando Piazza Júnior, o projeto praticamente não gerará risco aos investidores e nem à usina.
Quanto a usina receberá pela venda da matéria-prima do biometano?
Conforme Piazza Júnior, o metro cúbico do produto está orçado entre R$ 0,80 e R$ 0,90. “Mas o preço oscila conforme as cotações do petróleo e do dólar”, disse ele para o Portal JornalCana.
A Usina Malosso, no entanto, receberá uma parte do valor, a ser pago para o grupo responsável pelo empreendimento. O quanto a usina irá receber estava em definição na quarta-feira (26/08), segundo Luis Roberto Sordi Zanardi, diretor superintendente da companhia sucroenergética.
Em previsões feitas pelo Portal JornalCana, se a usina receber R$ 0,10 por metro cúbico, e entregar 25 mil metros cúbicos por dia, terá uma receita de R$ 2,5 mil diários. Como a entrega em toda a safra é projetada em 5 milhões de metros cúbicos, a Malosso terá uma receita de R$ 500 mil.
É um valor baixo, que exigirá, conforme apurado entre agentes do setor, uma queda-de-braço para que o recebimento pela usina chegue ao menos a 50% do valor do metro cúbico.
As discussões sobre quanto a usina deve receber certamente integrarão uma novela ainda nos primeiros capítulos. Há outros senões nesse novo nicho: como confiar em uma empresa da Petrobras, que está descapitalizada e envolta em escândalos?
Mais: o presidente da estatal, Ademir Bendine, já anunciou diversas vezes que, para reduzir os custos e ampliar o caixa, a venda de ativos da companhia é uma estratégia. E se a GasBrasiliano for vendida? Quem assumirá o contrato de compra de biometano?
Piazza Júnior, presidente da GasBrasiliano, foi categórico em entrevista na quarta-feira (26/08): a empresa não está à venda.
Há outra ponta de preocupação: quem assinará o contrato de fornecimento do biometano com a GásBrasiliano, a usina ou a SPE? Pelo apurado pelo Portal JornalCana, esse contrato deverá ser assumido pela usina. E se no meio do caminho o contrato não for cumprido? Quem assumirá a responsabilidade?
“É nessa hora que o contrato entre a usina e a SPE deve ser muito bem amarrado”, diz analista contábil que acompanha o processo da Malosso.