Recentemente a Presidente Dilma Roussef mudou radicalmente seu posicionamento em relação ao setor sucroenergético. Primeiro ela considerou estratégica a parceria com os Estados Unidos para ampliar o mercado de etanol. “Nós consideramos fundamental a renovação dos canaviais, assim como a estrutura logística do setor, com a conclusão do etanolduto, além de construir uma malha ferroviária que também dará maior viabilidade a logística do setor”, declarou ela no final de julho durante o lançamento da planta de etanol 2G da Raízen.
Interessante que até o final do ano passado, Dilma só fazia prejudicar o setor com suas políticas equivocadas, conduzindo-o a uma das piores crises da história com o fechamento de mais de setenta unidades. Situação que só não é pior para as usinas porque até os credores tiveram que flexibilizar, com os bancos brasileiros aceitando renegociar dívidas para evitar um calote generalizado por novos pedidos de recuperação judicial e os fundos estrangeiros transformando dívidas em equities (ações). Consumindo os despojos da crise, tradicionais grupos com o GVO (Grupo Virgolino de Oliveira) e Antonio Ruette estão prestes a ter seus controles acionários repassados a fundos de capital.
O que faria uma governante mudar assim tão radical e rapidamente de postura? Simples. O desmoronamento de sua popularidade mantida artificialmente alta em seu primeiro mandato às custas de políticas assistencialistas e populistas, como a redução das contas de energia elétrica e o ufanismo do pré-sal. Agora que, literalmente, caiu a casa do PT, com a operação Lava Jato, recessão na economia e ameaça de impeachment, a Presidente volta seu discurso aos setores de real expressão socioeconômica, como o sucroenergético, apresentando-se como uma versão feminina de caixeiro viajante do desenvolvimento sustentável, como seu antecessor.
Claro que esta repentina postura pró-etanol seria oportunamente aproveitada. Não é à toa que na inauguração da planta de etanol 2G em Piracicaba, Rubens Silveira Mello, presidente do conselho da Cosan, elogiou a presidente Dilma e afirmou ser ela uma mulher de fibra. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Rubens, considerado o rei do etanol, disse que a presidente Dilma Rousseff “mudou muito” e que o governo está “indo na direção certa”. O empresário, que no primeiro mandato de Dilma fez duras críticas à sua gestão, se mostrou otimista agora.
Com a deposição da “eminência parda”, o rei do etanol adianta-se em ocupar uma posição estratégica diante do governo, atitude que faz todo sentido tendo em vista que as medidas oficiais adotadas até o momento, como aumento da mistura e volta da Cide, apenas deram um fôlego extra à maioria das usinas, mas são insuficientes para garantir a sobrevivência até o próximo ciclo positivo.
No início desta safra, de dez usinas da região Centro/Sul que procuraram os serviços de assessoria financeira da FINBIO, uma entrou em recuperação judicial, duas conseguiram restruturação formal de suas dívidas e as demais conseguiram manter suas atividades normais. Contudo, no avançar da safra, com a queda nos preços do etanol mesmo diante do aumento no consumo do biocombustível, passou a ficar nítida a inviabilização financeira de todas as dez usinas até o início da próxima safra.
O rei do etanol está certo! Já que a Dilma tenta usar o setor como propulsão contra a crise política e econômica, as lideranças devem aproveitar esta oportunidade para obter correções e consolidar políticas públicas que tragam de volta a competitividade ao setor, como a alíquota integral da Cide e até um novo Proer. Quem sabe agora a Presidente Dilma aprenda a lição e comece a investir em políticas que gerem real desenvolvimento socioeconômico? Não custa tentar!