Mercado

Comércio pode atingir US$ 10 bilhõe

Negociações devem continuar mesmo após o decreto de salvaguardas. O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, e o embaixador da China no Brasil, Jiang Yuande, disseram ontem que as negociações amistosas entre os dois governos para obter restrições voluntárias às importações da China continuam. Mesmo após a regulamentação das salvaguardas, que desencadeou uma série de pedidos de proteção e abriu a possibilidade de se decretar alguns embargos, a expectativa de Ramalho é de que a corrente de comércio atinja US$ 10 bilhões este ano.

No ano passado, a corrente de comércio foi de US$ 9,15 bilhões e neste ano acumula, de janeiro a setembro, US$ 8,6 bilhões. Ramalho acredita que o aumento tanto de importações como de exportações tende a continuar. As exportações para a China atingiram, no ano passado, US$ 5,44 bilhões, o que representa um crescimento de 83,4% em relação a 2003. De janeiro a setembro de 2005, já foram exportados US$ 4,76 bilhões, um crescimento de 8,62% em relação ao mesmo período de 2004 (US$ 4,38 bilhões).

Já as importações do mercado chinês correspondem a US$ 3,84 bilhão no ano, alta de 47,78% frente a 2004 (US$ 2,60 bilhões). A corrente de comércio entre os dois países cresceu mais de 800% entre 1999 e 2004.

Atualmente, a China é o terceiro maior parceiro comercial brasileiro, atrás dos Estados Unidos e da Argentina. Ramalho disse que, apesar da pauta de exportações para a China ainda estar concentrada em produtos básicos, principalmente soja e minério de ferro, o Brasil já tem uma participação importante de vendas de produtos manufaturados, que ainda pode crescer.

“A razão do crescimento de 50% das importações vindas da China em 2005 é o aumento das aquisições de insumos, componentes e matérias-primas para ampliar a produção industrial para o mercado interno e para exportações”, disse Ramalho. Ele citou como exemplo os recordes de exportações batidos pelo estado do Amazonas, que ampliou a produção de celulares com componentes chineses.

Ramalho lembrou que o aumento das importações também está relacionado à compra de bens de consumo. Especificamente, os bens de consumo poderão ser objeto de investigação para adoção de salvaguardas.

Negociações continuam

Em relação aos bens de consumo, Ramalho lembrou que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, continuará a negociar amistosamente com o governo chinês para evitar a desorganização de alguns setores brasileiros. “Após a visita do ministro Furlan à China, aguardamos a chegada de uma missão chinesa ao Brasil para prosseguirmos com as negociações, mesmo após a regulamentação das salvaguardas”, afirmou.

Ramalho alerta que o aumento das importações chinesas observado este ano nada tem a ver com o reconhecimento da China como economia de mercado. Segundo ele, a decisão tomada no final do ano passado influencia apenas processos específicos de dumping. “Uma boa preparação para 2006 permitirá manter um comércio intenso com a China e ampliar os investimentos entre os dois países”, disse.

O embaixador da China no Brasil, Jiang Yuande, disse que a China busca o equilíbrio nas relações comerciais entre os dois países e lembrou que o Brasil é o principal parceiro comercial da China na América Latina. “Não estou satisfeito com a posição de terceiro maior importador de produtos brasileiros ocupada pela China. Queremos alcançar o segundo lugar e no longo prazo liderar este ranking”, disse.

Em 2004, o Brasil apresentou superávit de US$ 1,73 bilhão com a China frente aos US$ 2,38 bilhões de 2003. Neste ano, até setembro, o superávit é de US$ 921,14 milhões.

Na avaliação do embaixador chinês, as discussões para encontrar uma solução satisfatória para os dois países em relação aos conflitos que levaram à regulamentação de salvaguardas brasileiras contra produtos chineses são a base para a continuidade do diálogo bilateral.

“As relações entre os dois países não podem ser afetadas por pequenos problemas. A melhor solução é aquela que terá o menor impacto econômico para os dois países. E as consultas amistosas são a melhor forma de chegar a esse entendimento. Nossa porta ainda está bem aberta para as negociações”, disse.

Furlan, há cerca de três semanas, fracassou na primeira tentativa de negociar, em Pequim, restrições voluntárias de exportações chinesas para o Brasil. Assim que o ministro retornou ao País as salvaguardas foram regulamentadas.

O embaixador chinês destacou o interesse do país asiático na tecnologia de fabricação do álcool combustível e em viabilizar a venda de carne bovina brasileira para a China. “Devemos trabalhar mais para acabar com as pequenas divergências e olhar para o interesse nacional dos dois países”, defendeu.

Jiang Yuande e Ivan Ramalho participaram do seminário “Efeito China: Implicações para o planejamento estratégico empresarial”, promovido pelo Conselho Empresarial Brasil-China, em São Paulo.