As diversas projeções de oferta de cana-de-açúcar na safra 2015/16 apontam para entre 590 e 617 milhões de toneladas na região Centro-Sul. Mas as chuvas atropelaram essas previsões.
Embora esperadas, as chuvas chegaram acima do esperado principalmente em maio. Foi o suficiente para frear o ritmo de corte-carregamento e transporte (CCT) então acelerado nas unidades da região.
Para se ter ideia, apenas em Ribeirão Preto, onde os canaviais atendem algumas das principais usinas paulistas, a incidência pluviométrica alcançou 111 mililitros em maio, conforme medição no Centro de Cana IAC.
Especialistas do setor avaliam para o Portal JornalCana os impactos das condições climáticas na 15/16. Em uma posição eles concordam em unanimidade: vai sobrar cana bisada para 2016.
Em entrevista coletiva em 06/07, no primeiro dos dois dias do Ethanol Summit, na capital paulista, Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), foi curto e grosso: apenas nos seis primeiros dias de julho, a colheita foi interrompida por três dias na Centro-Sul.
“Se você não moi, a cana segue crescendo, e o ponto de interrogação é quanto efetivamente de cana será processada nessa safra”, pontuou.
A afirmação de Padua ecoou nas conversas entre os mais de 1,5 mil participantes da rodada internacional de discussões sobre o setor sucroenergético, promovida pela Unica.
A temporada de chuvas já tinha sido levado em conta pela consultoria Canaplan, dirigida por Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio). Em evento em 24/04, em Ribeirão Preto, a companhia fez três projeções para a 15/16 no Centro-Sul: moagem em clima seco, padrão e úmido.
Se a projeção por safra úmida prevalecer, as unidades do Centro-Sul irão moer 577,9 milhões de toneladas.
A estimativa da Canaplan é bem conservadora, mas com os ‘pés no chão.’
Mas já é possível avaliar quanto de cana deixará de ser moída na 15/16?
Padua, da Unica, lembrou, no Ethanol Summit, que a moagem no Estado de São Paulo estava 11 milhões de toneladas atrasada por conta das chuvas.
Manoel Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do País (Orplana), acredita que apesar de uma possível queda de moagem, a oferta não deverá ser comprometida porque, pelas suas contas, o Centro-Sul terá 600 milhões de toneladas na 15/16, ou seja, 25 milhões de toneladas acima da moagem da 14/15. Sendo assim, uma possível queda não deverá influenciar em moagem inferior à temporada passada.
“[Mas] a safra deverá ser esticada porque temos mais cana, começamos mais tarde e, dependendo das chuvas, com a colheita mecanizada ela para apenas um chuvisco”, pontuou em entrevista para o Portal JornalCana
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O que dizem as lideranças
Confira abaixo as avaliações de lideranças do setor sucroenergético sobre o impacto das chuvas:
Roberto Holanda Filho, presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul):
“A chuva também afeta a safra 2015/16 no Estado de Mato Grosso do Sul, mas as unidades em operação já moeram pouco mais de 15 milhões de toneladas de cana-de-açúcar [até 06/07]. O volume é 26% acima da moagem registrada neste mesmo período na safra passada. A chuva ainda atrapalha, mas até agora mantenho minhas previsões de moagem.”
O Estado do Mato Grosso do Sul, lembra, é dos mais mecanizados do setor sucroenergético, com índice de 97%.
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Mário Campos, presidente da Siamig, instituição que representa as usinas do Estado de Minas Gerais:
“A chuva atrapalhou um pouco no início [da safra], até porque o índice de mecanização em Minas Gerais é de quase 97%. As unidades de Minas Gerais têm previsão de moer 61 milhões de toneladas de cana na 15/16, cerca de 2 milhões de toneladas acima da 14/15.”
E em que pese a incidência pluviométrica, Minas Gerais, segundo Campos, fará a maior produção de etanol de sua história: as 37 unidades deverão fazer 3,9 bilhões de litros, em função da demanda, enquanto a produção de açúcar deverá cair entre 3% a 4%, chegando a 3 milhões de toneladas.
Miguel Rubens Tranin, presidente da Bioenergia, instituição que representa a Alcopar, Sialpar, Siapar e Sibiopar, no Estado do Paraná:
“Por tradição, o setor sucroenergético paranaense, com 25 unidades, começa a safra mais cedo em relação, por exemplo, ao Estado de São Paulo. Como temos um inverno característico e, com variedades mais precoces, começamos [a moer] mais cedo. Por que? Porque sempre temos mais chuvas que outros estados. E para tentar contornar essa situação de chuvas, começa-se mais cedo para tentar aproveitar melhor o tempo de moagem.
O efeito El Niño está instalado. Isso significa maior ocorrência de chuvas. Um exemplo ocorreu nos últimos dias, onde em algumas regiões choveram 150 mililitros em três dias. E onde choveu pouco, choveram 80 mililitros.”
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