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Datagro: álcool e União Européia mudarão fluxo de açúcar no mundo

O fluxo mundial de comércio de açúcar vai ser alterado nos próximos anos pela emergência do mercado de álcool e pela redução da produção de açúcar branco na União Européia, segundo cenário apresentado pelo presidente da Coimex Trading Suisse AS, Patrick Zen-Ruffinen. “Até agora vemos o álcool combustível como um subproduto do açúcar mas isto vai mudar e o açúcar vai passar a ser um subproduto do álcool”, disse.

Zen-Ruffinen acredita que a partir de agora, através do álcool, açúcar e energia ficaram vinculados e como a necessidade de energia é sempre ilimitada, o fluxo de açúcar pode correr perigo. “As vendas de carros bicombustíveis estão em alta assim como o preço do petróleo, o que deve assegurar uma maior demanda por álcool. E a cana ainda é a matéria-prima mais barata para a produção do combustível”, disse.

O impacto deste aumento de demanda por álcool irá reduzir a disponibilidade de cana para produção de açúcar, acredita o executivo. “A expectativa é de que os preços de açúcar permaneçam elevados por um bom período porque haverá sempre necessidade de novas unidades produtoras e os custos das novas unidades tem aumentado”, disse.

Zen-Ruffinen afirmou, contudo, que o mercado internacional está cada vez mais confiante na capacidade do Brasil como fornecedor de açúcar. “O Brasil ainda é o principal país com capacidade de aumento de área plantada com cana. Na próxima safra, 19 novas usinas entrarão em funcionamento”, disse.

Jacques Gillaux, trading manager da divisão de açúcar e álcool da Cargill International S/A, disse que a redução da oferta de açúcar pela União Européia fruto da vitória do Brasil na Organização Mundial de Comércio deve começar a ocorrer já na próxima safra. “Este fato vai alterar de forma significativa o fluxo de comércio de açúcar porque o Brasil não vai conseguir atender de imediato a demanda que vai aparecer já que a União Européia vai deixar de exportar para vários destinos”, disse.

Gillaux acredita que este fato já está levando a uma mudança no fluxo de tipo de açúcar. “O comércio de açúcar branco vai ser reduzido e o de demerara vai se aquecer”, disse. Segundo ele, sem o branco europeu, muitos destinos irão preferir construir suas refinarias próprias. Gillaux conta que Bangladesh está construindo seis novas refinarias que substituirão 43% do açúcar branco importado.

Além de Bangladesh, a Indonésia está construindo quatro novas refinarias, assim como Azerbaijão, Egito, Iêmen, Arábia Saudita, Dubai e Algéria. “Todas essas novas unidades juntas terão uma capacidade de refino de 18 mil toneladas por dia ou 500 mil toneladas por mês”, disse. O resultado, para ele, será um aumento das exportações basileiras de demerara.

Esta migração do branco para o demerara também está alterando os pedidos de navios cargueiros. “Os novos pedidos de navios estão sendo para navios de maior porte. Enquanto os navios com capacidade de até 14.99 mil toneladas tiveram um aumento de demanda de 6.9%, a demanda por novos navios com capacidade acima de 40 mil t até 59,9 mil t subiu 24,5%”, disse. Os navios maiores geralmente são utilizados para o transporte de commodities a granel, como o açúcar demerara.

Farideh Bromfield, diretora de operações estratégicas da ED& F Man, estima que esta mudança de foco entre branco e demerara vai elevar a demanda por demerara em 3 milhões de toneladas na próxima década. “Outros destinos que não construírem refinarias vão ter que mudar do açúcar refinado 45 de cor para o cristal com 150 de cor e de menor qualidade e que pode ser abastecido pelo Brasil, fazendo com que a demanda por cristal aumente cerca de 2 milhões de toneladas”, disse.