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Investimento e dívidas da Petrobras preocupam

Investimento e dívidas da Petrobras preocupam

O mercado espera que a Petrobras apresente na sexta-feira um novo plano de negócios com investimentos de US$ 130 bilhões a US$ 140 bilhões, variando de 30% a 40% dos investimentos de US$ 207 bilhões previstos no plano anterior. A expectativa é que a Petrobras traga um plano de guerra. São esperados cortes no orçamento de exploração, desenvolvimento da produção, do refino e da área internacional, junto com uma agressiva venda de ativos, maior até do que a meta de US$ 3 bilhões em 2015.

O banco Itaú trabalha estima que a Petrobras vai trazer um plano de US$ 136 bilhões, 34% menor que o anterior. O banco previu corte de dois terços no orçamento de exploração, prevendo redução de 27% – de US$ 154 bilhões para US$ 112 bilhões – no orçamento da diretoria de exploração e produção, a mais importante da companhia. No refino a expectativa é de um corte dramático, de 60%, com o orçamento caindo para US$ 13 bilhões.

As dificuldades enfrentadas pelos estaleiros envolvidos em cheio nas investigações da Lava-Jato também vão ter impacto na curva de produção da empresa. O Itaú cortou a meta de entrega de petróleo de 4,2 milhões de barris em 2020 para 2,9 milhões de barris, embutindo um atraso de cerca de dois anos na entrega das plataformas FPSOs encomendadas pela estatal.

Um analista de um grande banco diz que não tem previsão para o investimento da Petrobras porque está mais preocupado com o endividamento da companhia. Só este ano a Petrobras vai pagar o equivalente a R$ 64,9 bilhões em juros e amortizações, considerando o câmbio médio de R$ 3,09 calculado pelo Boletim Focus, do Banco Central.

“Quanto mais ela reduzir o investimento, melhor. O ideal é que ficasse só na manutenção pois eles precisam se endividar para investir, e a dívida já está muito alta. Ou ela vende ativos ou faz um aumento de capital”, diz esse analista.

A venda de ativos é um desafio inclusive interno, já que não é hábito da empresa se desfazer de negócios. A nova direção da Petrobras aposta em um modelo criativo de oferta da BR Distribuidora no mercado no segundo semestre. Já para outros ativos o cenário ainda não está claro. Uma fonte explica que não vê muita possibilidade de fazer caixa em volume relevante com a venda de participação na Gaspetro.

O problema é o baixo valor de avaliação, afirma outro analista. “A Gaspetro não vale muito, e tirando as distribuidoras do Sudeste, não vejo valor nessas companhias que traga um dinheiro relevante. A não ser que ela venda também os gasodutos”, diz.

Uma possibilidade de arrecadar muito dinheiro seria a venda das termelétricas, mas o modelo que a Petrobras desenhou, para vender 49% de uma nova empresa que reuniria os cerca de 6 mil MW de geração térmica, não mostrou sucesso. Um potencial comprador disse que a estatal ainda não tem um “data room” porque “não sabe o que quer”. Os compradores gostariam de comprar as usinas separadamente, garantindo suprimento de gás por contrato.

O problema é que a Petrobras compensa as perdas com a importação de Gás Natural Liquefeito (GNL) com a venda de energia dessas usinas, uma vez que ela não repassa para o preço do gás a volatilidade termelétrico toda a volatilidade do GNL no mercado internacional.

Vendê-las iria deixar a companhia com dificuldades para suprir o mercado de gás, já que a operação do sistema elétrico não tem previsibilidade que permita, por exemplo, comprar gás mais barato por meio de contratos de longo prazo. Culpa do sistema de despacho brasileiro que prevê a utilização dessas usinas apenas em determinados momentos, sem a chamada inflexibilidade que garantiria por exemplo que as térmicas gerassem 30% ou 40% de sua capacidade ao longo do ano.

Com as térmicas sob seu controle, a arbitragem entre utilização de gás nacional, GNL e a venda de energia faz com que o resultado da área seja positivo.

Todas essas questões estão em aberto até que se conheça o plano de negócios que será apresentado ao conselho de administração amanhã. O mercado espera ansioso até porque as especulações e informações desencontradas que vem sendo divulgadas ultimamente nada acrescentam para quem está analisando os fundamentos da estatal no longo prazo.

(Fonte: Valor Econômico)

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