Os desvarios do óleo e a queda no custo de produção do álcool desmentem os céticos. O açúcar deu um salto no mercado internacional nesta semana, indo de US$ 274,2 para US$ 297,7 a tonelada. A motivação é o temor de que, com as cotações do petróleo na faixa de US$ 65/US$ 70 o barril, prevê-se que aumente muito a produção de álcool e, em conseqüência, se reduza a de açúcar, elevando seu preço.
As cabriolas do petróleo podem ser conjunturais. Motivos reais, como o furor do furacão Katrina, ou especulativos têm sido alegados para os surtos de alta do óleo e pode ser que, a médio prazo, sua cotação volte para um nível mais razoável. Não é absurdo esperar que, com o incremento da produção pelos países da Opep, o barril de petróleo volte a variar, em futuro próximo, entre US$ 40 e US$ 50 o barril.
A essa altura, isso pode parecer “wishful thinking”, isto é, esperar que se realize o que desejamos. O certo é que um sonho brasileiro de décadas já se concretizou. A produção de álcool já é competitiva em relação à cotação do petróleo, o que os adversários do Proálcool negavam de pés juntos, não faz muito tempo, que iria acontecer.
De fato, segundo cálculos de Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, o custo de produção (exclusive envasamento e transporte) de um barril de álcool de volume igual a um de petróleo (159 litros) está hoje em US$ 30. Isso significa que o custo de um litro de álcool é de US$ 0,19, equivalente a R$ 0,45 a uma taxa de R$ 2,40 por dólar.
Poderão objetar que estou comparando coisas heterogêneas. O custo de produção de um barril de petróleo varia de região para região, de país para país, de área para área, de bacia por bacia, no caso de extração da plataforma submarina, como ocorre com a maior parte da produção brasileira. Hoje, o custo médio de produção de um barril de petróleo bruto e gás (exclusive transporte e envasamento) custa US$ 4,88 para a Petrobras.
O álcool ainda está muito longe disso, mas a comparação entre custo de um produto e preço de outro se impõe. Com o disparo da cotação do petróleo, fenômeno que pode durar até 2008 segundo as previsões correntes, ter álcool produzido a US$ 30 é uma forte defesa contra as oscilações do óleo no mercado externo. E, claro, a tecnologia do álcool tem continuamente avançado e é possível que, dentro de alguns anos, o custo do barril possa estar em torno de US$ 20/US$ 25.
O Brasil leva uma decidida vantagem nessa área. Calcula-se que o barril de metanol, produzido a partir de milho, com volume idêntico ao de petróleo, custe hoje US$ 55,65 (US$ 0,35 por litro) nos EUA. O barril de metanol de outros grãos na Europa sai por US$ 87,45 (US$ 0,55 por litro). Do jeito que vai a coisa, o biodiesel, a partir de soja, mamona ou óleo de dendê, cuja adição de 2% ao litro de diesel está sendo estudada, parece outra criativa idéia brasileira.
O fato inescapável é que a alta desvairada de qualquer “commodity” estimula poderosamente a competição. E o álcool se projeta como sucedâneo viável do petróleo, tido como economicamente insubstituível até pouco tempo.