A política de preços que garantiu à Petrobras lucro de R$ 5,3 bilhões em um trimestre de baixas cotações do petróleo no mercado internacional também beneficiou distribuidoras privadas de combustíveis no país. Mesmo com um cenário adverso, de vendas desacelerando e reajustes nos preços da gasolina e do diesel, Ipiranga e Raízen apresentaram ganhos expressivos no início do ano. Controlada pelo grupo Ultra, a primeira registrou um salto de 43% no Ebitda, na comparação com o primeiro trimestre do ano anterior. Ao lado da BR, Ipiranga e Raízen controlam 75% das vendas de combustíveis no mercado brasileiro.
“As distribuidoras se aproveitaram de um cenário em que puderam comprar combustíveis mais baratos no mercado externo e vender com preços bem mais altos no Brasil”, diz o analista Flavio Conde, do site WhatsCall?. Na média do primeiro trimestre, a cotação internacional do petróleo Brent foi 50% inferior à praticada no mesmo período de 2014. Os preços internos dos combustíveis, porém, não acompanharam este movimento — pelo contrário, foram reajustados pela Petrobras no início de novembro, quando as cotações internacionais já estavam em queda.
Segundo analistas, a diferença entre os preços da gasolina e do diesel no Brasil com relação às cotações internacionais chegaram a superar a casa dos 40% no início do ano. Em fevereiro, o superintendente de Abastecimento da ANP, Aurélio Amaral, disse que a agência já havia identificado um fluxo de importações por empresas privadas com o objetivo de se aproveitar das melhores margens. “Há outros agentes (além da Petrobras) fazendo importações significativas de combustíveis neste momento”, afirmou.
Em seu balanço do primeiro trimestre, o grupo Ultra cita as melhores margens com a venda de combustíveis importados como um dos “efeitos pontuais” que garantiram o salto no Ebitda para R$ 715 milhões, ante R$ 499 milhões registrados nos primeiros três meses de 2014. “Os movimentos no mercado interno e externo de combustíveis geraram oportunidade de importação de produtos e benefícios temporários de ganho de estoque, com efeito combinado de R$ 108 milhões no primeiro trimestre de 2015”, diz a companhia, no documento de divulgação dos resultados no período.
A Cosan, controladora da Raízen, não detalha os ganhos com importação de combustíveis, limitando-se a dizer que a melhora de 13,1% no Ebitda — que chegou a R$ 589,5 milhões — foi obtida “principalmente em função dos reajustes de preços e do aumento do volume vendido impulsionado pelo crescimento da rede de postos revendedores.” De fato, o balanço da Cosan mostra um crescimento de 3,3% nas vendas da Raízen, enquanto a Ipiranga registrou alta de apenas 1% no volume de vendas no período.
Não há dados oficiais sobre os volumes importados pelas duas distribuidoras. Segundo especialistas, houve grande fluxo para São Paulo, mercado onde as margens são mais apertadas por conta da grande competição. O combustível importado chegava em navios com capacidades entre 30 milhões e 40 milhões de litros. Procuradas, Ipiranga e Raízen não comentaram o assunto. Uma comparação entre as estatísticas divulgadas pela ANP e pela Petrobras mostra que a participação da estatal na importação de derivados de petróleo pelo Brasil caiu de 70% no primeiro trimestre de 2014 para 55% este ano — quando o país importou uma média de 623 mil barris por dia e a Petrobras, apenas 345 mil barris por dia.
Ao contrário do que ocorre com a Petrobras, porém, as distribuidoras privadas não têm prejuízos em períodos de petróleo mais caro no mercado internacional: neste cenário, deixam de importar e passam a abastecer todos os seus clientes com produtos adquiridos da Petrobras — que arca com as margens negativas na compra de produtos mais caros no mercado externo. Para o mercado, a facilidade com que as distribuidoras brasileiras podem arbitrar preços no mercado internacional é mais uma distorção da política de preços dos combustíveis vigente no país desde o início do governo Dilma Rousseff.
Para a revenda, a concentração no mercado de combustíveis também contribui para a melhora das margens das distribuidoras. “São apenas três grandes empresas e 40 mil clientes, ou seja, há muito pouca competição”, diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia, lembrando que as empresas têm ainda maior disponibilidade para trabalhar com “mix de produtos”, praticando maiores margens em mercados menos competitivos, como a região Norte.
A concentração se acentuou na última década, com uma série de fusões e aquisições entre as maiores companhias do setor — que levou ao sumiço de marcas tradicionais como Esso e Texaco. Em 2009, a participação das três maiores somava 68,8% do mercado, segundo o Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom). Em 2014, último dado disponível, era de 74,7%. Para analistas, o bom desempenho das empresas do setor nos últimos anos pode facilitar os planos da Petrobras de vender uma fatia da BR Distribuidora, a líder do mercado, dentro de seu pacote de desinvestimentos, que prevê arrecadar US$ 13 bilhões até o final de 2016.
No primeiro trimestre de 2015, o negócio de distribuição de combustíveis da Petrobras teve um lucro líquido de R$ 555 milhões, alta de 15% com relação ao mesmo período do ano anterior. O desempenho tem impacto da eliminação, em 2015, das provisões para o plano de demissões voluntárias da companhia, mas também reflete “as maiores margens médias de comercialização de combustíveis, associadas ao aumento no volume de vendas (1%)”, informou a Petrobras. Ao contrário das duas distribuidoras privadas, porém, a BR não faz importações diretas, limitando suas compras a derivados produzidos ou importados pela própria estatal.
(Fonte: Brasil Econômico)