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De olho no lucro, produtor de etanol dos EUA quer exportar mais

De olho no lucro, produtor de etanol dos EUA quer exportar mais

Aumentar as exportações tem-se revelado uma crescente tendência entre produtores de etanol dos EUA. O assunto ganha cada dia mais presença entre representantes de fabricantes e de instituições representativas do setor. O objetivo é garantir caixa enquanto o mercado consumidor interno retoma seu espaço.

Pode ser uma estratégia para reforçar o caixa dos fabricantes americanos. Mas é uma boa notícia para o setor sucroenergético brasileiro? 

No cenário dos EUA, o mercado interno faz sua parte e aumenta gradativamente o consumo de gasolina. É um reflexo do reaquecimento da economia turbinada com o preço baixo do petróleo.

E esse crescimento puxa junto o consumo do etanol de milho, já que em muitos estados americanos os postos oferecem também a E15, gasolina cujo litro leva 15% do biocombustível.

Ocorre, no entanto, que a demanda tem crescido abaixo da oferta. Ou seja, há estoque, as exportações seguem seu curso, mas ainda assim a indústria americana do setor viu a luz amarela dar lugar para a vermelha.

ADM: produção de etanol em descompasso
ADM: produção de etanol em descompasso

No começo deste mês, a gigante Archer Daniels Midland (ADM), também fabricante de etanol e de biodiesel, relatou que o processamento de milho foi US$ 124 milhões menor no primeiro trimestre do ano, por conta dos volumes menores de produção de etanol, adequada às condições do mercado.

Os números foram apresentados no último dia 5 por Juan Luciano, CEO da ADM, no relatório para investidores referente ao primeiro trimestre de 2015.

Na conference call realizada no dia 06, Luciano afirmou que o consumo de gasolina tem crescido no mercado americano. E que esse crescimento irá refletir também na demanda por etanol.

Enquanto isso, o setor respira contração. A fábrica de etanol da ADM em Marshall, no estado de Minnesota, fechou o primeiro trimestre com redução em 73% de seu lucro operacional relacionado ao biocombustível, ante mesmo período do ano passado.

Reforço de caixa

Diante um cenário desses, exportar mais etanol surge como estratégia para reforçar o caixa à espera do avanço do mercado consumidor interno.

No ano passado, o setor de etanol americano exportou 836 milhões de galões, ou 3 bilhões de litros, levando em conta que cada galão equivale a 3,7 litros.

Mas os EUA têm potencial para exportar até mais de 1 bilhão de galões, ou 3,7 bilhões de litros, conforme levantamento da Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês).

Em 2011, segundo a entidade, o setor embarcou para outros países 1,193 bilhões de galões, ou 4,4 bilhões de litros. Em que pesem as desativações de unidades, há também outras mais novas, com ganho produtivo como as de etanol celulósico.

Outra informações da RFA: em 2014, a indústria de etanol dos EUA produziu 14,3 bilhões de galões, 1 bilhão acima da produção de 2013. Ou seja, há produto para vender no exterior.

Milho: matéria-prima de um etanol que por ora supera a demanda interna
Milho: matéria-prima de um etanol que por ora supera a demanda interna

Temporário

Pelo que o portal JornalCana apurou, as intenções de ampliar as exportações são medidas temporárias, que podem ganhar coro e virar realidade só até enquanto o mercado doméstico não der conta da oferta.

Mas é de se perguntar: e esse aumento de exportação ficar, digamos, sustentável? Se entrar na pauta de negociações dos gestores?

Não custa lembrar que o Brasil é cliente eventual do etanol de milho americano.

Segundo a própria RFA, em 2014 os EUA exportaram para o Brasil 112,2 milhões de galões, ou 415,1 milhões de litros. O país foi o segundo maior importador, e só perdeu para o Canadá, que comprou 335,9 milhões de galões.

Outro detalhe: as importações brasileiras de etanol de milho americano em 2014 foram 45% acima do registrado em 2013.

O JornalCana seguirá neste tema em outras postagens, porque certamente ele vai render. Principalmente porque com o real em desvalorização, fica mais atraente vender para o Brasil.

Guimarães, economista: subsídio e dólar em alta favorecem o etanol americano
Guimarães, economista: subsídio e dólar em alta favorecem o etanol americano

“O etanol americano recebe forte subsídios”

A pedidos do portal JornalCana, o economista Fabiano Guimarães, delegado da regional de Ribeirão Preto do Conselho Regional de Economistas do Estado de São Paulo (Corecon), fez a seguinte análise:

“Se [a intenção de ampliar as exportações de etanol também para o Brasil] for uma medida pontual, para atender a uma possível escassez de produção brasileira, tudo bem. Mas é preciso lembrar que o etanol americano recebe subsídios. Tem fortes subsídios do governo, que junto com o câmbio favorecido tornam ainda mais competitivo. Por isso, se exportações desse etanol subsidiado ficarem sistêmicas, caso ameacem se tornar uma nova situação de mercado, em que possa concorrer com o etanol feito no Brasil, pode-se adotar as salvaguardas previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para tentar impedir isso.”

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