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Diminui possibilidade de reeleição de Lula em 2006, avaliam executivos

A crise política provocada pelas denúncias de corrupção no governo diminuiu muito as chances do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se reeleger no ano que vem, na avaliação de empresários e executivos que participaram ontem do lançamento do anuário “Valor 1000”.

“Definitivamente, a reeleição do presidente parece fora de questão”, disse o presidente da distribuidora de aço Rio Negro, Carlos Jorge Loureiro. “Apesar dos índices de popularidade que ainda tem, ele perdeu completamente o crédito que tinha entre os formadores de opinião.”

“Acho que ele conseguirá levar o governo até o fim, mas a reeleição de Lula tornou-se muito improvável”, avaliou o presidente-executivo da Semp Toshiba, Sérgio Loeb. “Se tiver sensatez, Lula não se candidata”, afirmou o presidente do grupo Total Fleet, Salim Mattar. “Se ele se candidatar, não vai se reeleger.”

Essas impressões são muito diferentes das que dominavam os empresários poucos meses atrás, antes do início da crise. No início de maio, pesquisa feita pelo Datafolha com participantes da festa que comemorou o quinto aniversário do Valor indicou que 58% julgavam garantida a reeleição do presidente.

Muitos empresários acreditam que ainda é cedo para prever o que pode acontecer no ano que vem. “Falta mais de um ano para a eleição”, lembrou o presidente da fabricante de cigarros Souza Cruz, Nicandro Durante. “Num país como o Brasil, é muito tempo e tudo pode mudar.”

Para alguns, as chances eleitorais de Lula vão depender da maneira como o grosso do eleitorado vai interpretar a sucessão de revelações sobre o PT e o governo. “Nem todas as informações chegaram para o povão no Piauí”, disse o presidente da fabricante de defensivos agrícolas Nortox, Osmar Amaral. “Se fosse só pelo pessoal que está aqui, esse governo já teria terminado.”

Para o presidente da Coteminas, Josué Christiano Gomes da Silva, filho do vice-presidente José Alencar, é “prematuro” tirar conclusões como essa. “Como os mineiros gostam de dizer, a política é como as nuvens, muda o tempo inteiro”, afirmou.

Outros aspectos tornam ainda mais incerta a situação política, na visão dos empresários. Um ponto importante é que nem a oposição escapou do escândalo, já que o mesmo esquema montado para financiar o PT e seus aliados foi usado no passado pelo PSDB. “É preciso ver como outros partidos serão afetados antes de avaliar as chances de Lula”, disse o vice-presidente da Usina Batatais, Bernardo Biagi.

Existe ainda a possibilidade de que Lula consiga sobreviver à crise e recuperar pelo menos parte do seu prestígio. “Uma hora as revelações vão se esgotar, esta história ficará mais clara e começarão as cassações e as punições”, disse o presidente da rede de escolas Yázigi-Internexus, Ricardo Young. “Lula poderá se recuperar se aproveitar este momento para mudar de assunto e propor uma agenda positiva.”

Na sua avaliação, é possível que o cenário mude depois do fim do ano, quando se prevê que as investigações das CPIs em funcionamento estarão perto de uma conclusão. “O ano de 2006 terá que ser fabuloso na economia para Lula ter chance”, disse Loureiro, da Rio Negro. “Duvido que será tão bom.”