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Como ampliar a oferta de etanol? Veja a opinião de diretor da Unica

Rodrigues, da Unica
Rodrigues, da Unica

Em 2023, o Brasil necessitará de uma oferta extra de 26 milhões de litros de gasolina para atender o mercado interno de veículo no ciclo Otto. A necessidade integra estudo do Ministério das Minas e Energia (MME) apresentado pelo titular da pasta, Eduardo Braga, em audiência pública no dia 08/04 na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado.

Leia mais: Estudo prevê necessidade de mais 26 bilhões de litros de gasolina em 2023

O estudo do MME revela que em 2023 o setor sucroenergético nacional continuará com a capacidade de ofertar 30 bilhões de litros de etanol, mesma capacidade atual. Ou seja, o documento do MME prevê estagnação produtiva do setor sucroenergético.

Como o setor sucroenergético pode participar dessa demanda adicional de 26 bilhões de litros de gasolina?

Confira as opiniões de Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em entrevista concedida para o portal JornalCana na tarde de sexta-feira (24/04), em Barretos (SP), no evento de abertura da safra 2015/16 do Grupo Guarani. 

JornalCana – Como deve ficar a situação em 2023?

Antonio Padua Rodrigues – A premissa do estudo do Ministério das Minas e Energia (MME) é de que não há previsão de haver aumento da oferta pelas refinarias brasileiras. Ou seja, a capacidade atual de oferecer 30 bilhões de litros de gasolina A por ano deverá ser mantida em 2023. E daí, devido a necessidade de demanda, chegou-se à conclusão de que haverá falta de 26 bilhões de litros de gasolina para atender às necessidades do mercado brasileiro em 2023.

O que fazer?

Padua – Só há duas saídas: ou o Brasil busca auto-suficiência na produção de gasolina e de etanol, ou o país terá de investir em logística para trazer toda essa gasolina necessária de fora para garantir o abastecimento.

Fale mais a respeito 

Padua – Esta é a expectativa. E foi a primeira vez que um ministro do governo reconhece em público que pode haver essa falta de combustível. O setor [sucroenergético] já vem sinalizando isso há dois ou três anos, mas havia uma aposta de que de fato isso não aconteceria.

O sr. já conhecia essa previsão?

Padua – Eu já  conhecia esse número [necessidade de 26 bilhões de litros de gasolina adicionais]. Há uns dois meses, estive em encontro na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e foi apresentado esse número. Inclusive era feita avaliação de quanto custaria para receber esse produto importado. E a carência do Brasil não está apenas nesses 26 bilhões de litros de gasolina, mas também na carência de 24 bilhões de litros de óleo diesel, de GNV. Há um carência no país em todos os tipos de combustíveis.

Qual o papel do setor sucroenergético diante isso?

Padua – O etanol e o biodiesel podem contribuir para que não haja essa necessidade [de importar 26 bilhões de litros e de gasolina e de 24 bilhões de litros de diesel].

Mas como o setor pode ampliar a oferta de etanol nesses oito anos que faltam até 2023?

Padua – Depende das políticas públicas. No curto prazo, não se conseguirá uma recuperação forte do setor. Há um canavial altamente velho, e será preciso recupera-lo e retomar a produtividade agrícola. Aí será preciso expandir a área cultivada ou investir em novas unidades. Para que isso aconteça, será preciso uma clareza melhor, uma transparência melhor da questão da política de preço da gasolina, e da questão da valorização do etanol por suas finalidades ambientais.

Como?

Padua – E aí, sim, teria que haver uma Cide [Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico] que tivesse aspecto regulador, que irá depender muito do preço do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio. Mas também teria de haver uma Cide ambiental em função do valor do etanol.

As unidades em atividade conseguem moer acima de 600 milhões de toneladas por safra?

Padua – Conseguem. É preciso ter aproveitamento de tempo e de moagem. Nos últimos anos temos trabalhado com com baixa produtividade agrícola e com um tempo de aproveitamento de moagem que no passado foi de 85% e hoje esse aproveitamento é de 75% [do tempo investido em moagem], graças à mecanização e em função do aprendizado. Então, a fábrica tem condições [de moer mais]. É só adequar a gestão agrícola, a gestão da logística e abastecer adequadamente as usinas.

Rodrigues, da Unica: setor tem como ampliar a oferta de etanol
Rodrigues, da Unica: setor tem como ampliar a oferta de etanol