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Petrobras elege a Nigéria principal alvo no exterior

A Petrobras está se preparando para produzir 105 mil barris de petróleo por dia na Nigéria a partir de meados de 2009. Com esse volume, a produção da estatal no exterior aumentará de cerca de 250 mil barris/dia para 355 mil barris/dia. “A Nigéria vai ser o grande salto internacional da Petrobras”, afirma Samir Passos Awad, diretor-gerente da companhia na Nigéria.

Para alcançar esse volume de produção, a Petrobras investirá US$ 1,9 bilhão a partir desse ano até o fim do projeto. A empresa, que chegou a Nigéria em 1997, já gastou US$ 500 milhões em estudo e prospecção. O investimento total, portanto, chega a US$ 2,4 bilhões. A Nigéria é o maior investimento internacional da Petrobras e, portanto, representa a maior exposição financeira no exterior.

Mas o retorno é compensador. Com base na cotação atual de US$ 60 por barril, a produção na Nigéria geraria uma receita de US$ 2,27 bilhão. A Petrobras, que produz petróleo pesado no Brasil, importa da Nigéria entre 150 mil e 180 mil barris por dia, ou US$ 3,2 bilhões por ano.

De acordo com Awad, o petróleo nigeriano é muito leve. “O petróleo da Nigéria é o melhor negócio. O custo é competitivo e a qualidade é alta”, diz o executivo, acrescentando que a empresa deixou de importar de outros destinos como Oriente Médio e Argentina para comprar o óleo nigeriano.

O petróleo nigeriano virá de dois grandes empreendimentos dos quais a estatal brasileira é sócia: os campos de Agbami e Agko, ambos blocos de exploração em águas profundas.

Em Agbami, a Petrobras é parceira da Chevron. Esse campo é considerado um dos maiores descobertos na Nigéria. Agbami começou a ser construído em dezembro do ano passado e deve iniciar a produzir no segundo trimestre de 2008. Quando atingir seu ápice de produção em meados de 2009, Agbami gerará 250 mil barris/dia – 33 mil barris serão da Petrobras.

Agko é um pouco menor e deve gerar uma produção de 185 mil barris/dia, 73 mil barris para a Petrobras. Esse campo é explorado em parceria com a Total e começou a ser construído em abril desse ano. A previsão é que comece a produzir no quarto trimestre de 2008. Agko e Agbami devem produzir por 25 anos.

De acordo com Awad, a Petrobras participa ainda de um terceiro empreendimento: o bloco 324. A estatal brasileira ganhou a concessão desse campo em 2000 em uma parceria com a americana ExxonMobil e a norueguesa Statoil.

A Petrobras é a operadora do projeto e Awad, que foi o pioneiro da empresa no país africano, não esconde o orgulho. “É o operador que faz o show”, disse o executivo, explicando que a empresa é a responsável por executar as obras. O projeto do campo 324 ainda está em fase de “exploração selvagem”. O primeiro poço foi perfurado entre outubro e dezembro do ano passado, mas ainda não encontrou petróleo. Uma segunda tentativa será feita com a perfuração de um novo poço no início de 2006.

A Petrobras está fechando um acordo com a National Nigerian Petroleum Corporation (NNPC) para a venda de álcool combustível. O convênio, que prevê também transferência de tecnologia por meio da Embrapa para a produção de etanol na Nigéria, será assinado no dia 15 de agosto

Segundo Awad, o governo nigeriano quer misturar 3 milhões de litros de álcool por dia à gasolina em um prazo não definido. Para atingir esse volume, a Nigéria teria que adicionar 10% de álcool a todo seu consumo de gasolina, que está hoje em 30 milhões de litros por dia. Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de petróleo, o país importa gasolina por falta de capacidade de refino.

A Petrobras atuará como uma trading de álcool, adquirindo o produto das usinas brasileiras. Maior produtor de açúcar do mundo, o Brasil fabricou 18 bilhões de litros de álcool em 2004. Desse total, 8,8 bilhões de litros correspondem ao álcool anidro para combustível.

A estatal brasileira está especialmente interessada em vender gasolina já misturada com etanol para a Nigéria. O país não tem estrutura para estocar o álcool separadamente. Com esse convênio, a Petrobras conseguirá vender gasolina diretamente para a NNPC, elevando a margem de lucro.

A companhia hoje vende pouco volume de gasolina para a Nigéria e apenas por meio de intermediários. O Brasil também só consegue importar petróleo bruto nigeriano através de tradings. Mais de 99% das importações brasileiras provenientes da Nigéria são de petróleo bruto. O déficit no comércio entre os dois países chega a US$ 3 bilhões por ano a favor da Nigéria.

Segundo Awad, a empresa está interessada na proposta do governo brasileiro, que negocia um acordo com a Nigéria para que a Petrobras venda petróleo direto a NNPC. Os recursos do pagamento das importações do óleo seriam utilizados como garantia para incrementar as exportações de produtos brasileiros para a Nigéria.