No dia 31 de março se encerrou o prazo para que as distribuidoras de combustíveis do país fechassem os contratos de compra de 70% do etanol anidro que será misturado à gasolina nos próximos 12 meses, contados a partir de abril. Dada a grande oferta disponível do produto nos estoques das usinas e a percepção de que está a caminho uma oferta abundante no ciclo 2015/16, que começou oficialmente no dia 1º deste mês, as usinas fecharam a venda do anidro, na média, em níveis abaixo do que esperavam há um mês, quando os contratos começaram a ser negociados.
A expectativa inicial era de que o valor pago pelo anidro fosse equivalente ao preço do hidratado (que é usado diretamente no tanque dos veículos) mais um prêmio de 11,5% a 12,5%. A variação já estava abaixo do prêmio de 13% adotado para o ciclo 2014/15. “Mas, no fim das contas, os contratos foram fechados a níveis entre 10% e 13% de prêmio, com uma média de 10,5% a 11%”, estima o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues.
Pelas regras da Agência Nacional de Petróleo (ANP), as distribuidoras tinham até 30 de março para apresentar ao órgão regulador contratos de aquisição de 70% do anidro que vão misturar nos 12 meses – com base no consumo do ano anterior. Com essa operação, essas empresas adquirem o direito de comprovar a aquisição de outros 20% até 1º de junho, cumprindo, portanto, a determinação de deixar “em aberto” apenas 10% da demanda projetada.
Nas estimativas da Bioagência, até o fim de março, as distribuidoras haviam contratado entre 70% e 80% da demanda prevista de etanol anidro para o ano, dentro do mínimo definido em normativa, mas abaixo dos níveis de 80% a 90% registrados na mesma época de 2014. “No ano passado, a percepção era de que a produção do biocombustível seria menor, dada a forte estiagem que havia recaído sobre os canaviais no primeiro trimestre de 2014”, observa Rodrigues. Ele afirma que, neste momento, a visão é de uma boa oferta do produto, dada as condições climáticas favoráveis à cana.
Além da percepção de uma abundante disponibilidade de etanol e de que muitas usinas têm de realizar esses contratos para buscar capital de giro nos bancos – os contratos servem de lastro para operações de crédito -, também pesou no menor prêmio para o anidro o fato de, no ano passado, o percentual de prêmio efetivo do anidro sobre o hidratado ter sido de 11%, e não de 13% como foi definido antecipadamente nos contratos de compra e venda de 2014/15.
O percentual acordado a cada ano nesses contratos é aplicado semanalmente sobre o preço do hidratado, na medida em que a entrega do anidro é feita. A existência de um prêmio entre os dois produtos se deve ao valor agregado de um sobre o outro. O anidro é um etanol puro, que passa por desidratação para eliminar o máximo de água. Por isso, também tem custo maior que o do hidratado.
Em 2014, com o percentual de 25% na gasolina, o consumo de etanol anidro no país foi de 11,096 bilhões de litros, segundo a ANP, 14,5% mais que em 2013. Com o percentual mais elevado, de 27%, em vigor desde o dia 16 de fevereiro, a demanda deve ser elevada em 1 bilhão de litros, conforme estimativas do mercado.
Mesmo que o mercado de combustíveis no país não cresça em 2015 nos mesmos níveis de 2014, é esperado um avanço significativo, diz o diretor da Bioagência. “No ano passado, o consumo cresceu 7,5%. Mesmo com alguma desaceleração da economia brasileira, acredito num avanço de, pelo menos, 4,5%, puxado pelo etanol”. Somente no primeiro bimestre deste ano, o consumo de hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos, aumentou 16%, a 2,5 bilhões de litros. Nesse mesmo intervalo, a venda de gasolina C caiu 0,72%, para 6,9 bilhões de litros.
(Fonte: Valor Econômico)