Gestão Administrativa

EXCLUSIVO: Fornecedor de cana quer ser pago pela cogeração

O bagaço é hoje a  principal biomassa da cana que gera eletricidade
O bagaço é hoje a principal biomassa da cana que gera eletricidade

Sem qualquer alarde, está em curso uma discussão que envolve fornecedores de cana-de-açúcar e gestores de usinas da região Centro-Sul. Não há sinal de guerra nem de um lado, nem de outro, e o resultado tanto pode sair durante a safra 15/16, que está para começar de vez neste abril, como pode se arrastar por durante todo o ano até haver uma solução. Corre-se também o risco de essa discussão não chegar a nenhuma definição.

Fibroso, o bagaço permite ganho extra com a cogeração de excedente

O pivô das discussões é a biomassa da cana-de-açúcar produzida pelos fornecedores e que vira dinheiro extra para as usinas depois que é transformada em eletricidade e vendida no mercado.

É a conhecida energia elétrica excedente produzida a partir da biomassa, ou seja, feita pelo bagaço e até pela palha.

Durante a safra, essa energia excedente representa a sobra depois da cogeração ser consumida pelos próprios processos da unidade. E, na entressafra, é dinheiro extra puro, caso caldeira e turbina entrem em ação apenas para cogerar.

Muitas companhias do setor sucroenergético aliviaram o caixa, ou conseguiram-se manter no azul em pleno clima economicamente adverso, graças à venda de excedente energético no mercado spot.

Esse mercado, como se sabe, é pautado pelos preços do chamado Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), definido por órgão do governo federal, que nesta semana está em R$ 388 o megawatt-hora (MWh), mas em 2014 chegou a ficar acima de R$ 800. Nada mal para uma produção de MWh que em média fica em R$ 150 durante a safra.

Pois agora os fornecedores particulares, que na média representam 30% da cana processada no estado de São Paulo, também querem sua parte no faturamento da eletricidade cogerada. “Mas apenas da eletricidade extra, vendida no mercado spot”, afirmou ao portal JornalCana executivo que participa ativamente dessa discussão.

Aliás, a discussão se dá em torno do método Consecana, sigla para Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo. Trata-se de associação formada por cinco representantes da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) e por cinco da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

O Consecana institui sistema de pagamento da cana pelo teor de sacarose, baseado no chamado Açúcar Total Recuperável (ATR), que corresponde à quantidade de açúcar disponível na matéria-prima subtraída das perdas no processo industrial, e nos preços do açúcar e etanol vendidos pelas usinas nos mercados interno e externo.

No mês de março, o quilo de ATR pelo Consecana ficou em R$ 0,476. Significa que se uma tonelada de cana em março tivesse 144 quilos de ATR por tonelada, que é a média no estado de São Paulo durante a safra, ela renderia ao fornecedor brutos R$ 68,54.

Tirando o emprego dessa tonelada para fazer etanol ou açúcar, ela rende biomassa (bagaço já recolhido e palha, que fica no campo) a ser transformada em dinheiro extra através da venda no mercado spot.

Levantamento feito pelo portal JornalCana indica que consegue-se gerar 1 megawatt-hora com até duas toneladas de bagaço. Em números brutos, sem descontar custos, encargos e impostos, tem-se a venda de 1 MWh a R$ 388 (valor do PLD) contra R$ 200 pagos por duas toneladas de bagaço – na região de Ribeirão Preto (SP), uma tonelada teve média de R$ 100 com entrega na usina durante a entressafra.

É nessa margem de ganho que os fornecedores particulares estão de olho. Mais: o Consecana passa atualmente por revisão. Ou seja, é a hora mais que certa para o fornecedor brigar por sua parte no ganho com a biomassa usada para fazer eletricidade extra.

Se haverá alguma definição antes, durante ou mesmo depois da safra 15/16, só o tempo dirá. Mas um fato é certo: os fornecedores arregaçaram as mangas para brigar por sua parte no crescente mercado de cogeração.