BM&F e Câmara Setorial estudam formas de evitar picos das cotações na entressafra. A Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, com o apoio da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), vai propor ao governo um sistema para reduzir a volatilidade do preço do álcool. “Queremos que a curva de preços do álcool durante o ano transforme-se de um ‘v’ acentuado para um ‘u’ suave”, diz Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da câmara setorial.
“A idéia é simples”, diz Felix Schouchana, diretor de mercados agrícolas da BM&F: “basta o governo liberar os recursos do ‘warrantagem’ (certificado de armazenagem) no momento certo, ou seja, um pouco antes do início da safra, e fazer com que os empréstimos sejam pagos na entressafra”, afirma. “Além disso, os produtores poderão fixar na BM&F o preço de venda do álcool na entressafra, saindo do risco da volatilidade”, acrescenta Schouchana.
“A volatilidade do preço do álcool é muito grande. Na safra 2002/03, por exemplo, os produtores chegaram a receber até R$ 0,90 por litro na entressafra em comparação com R$ 0,30 por litro durante a safra”, lembra Carvalho, que quer atrair novos agentes econômicos para investir nos mercados futuros, além dos distribuidores e exportadores.
Com o barril do petróleo passando dos US$ 60, a defasagem do preço da gasolina em 30%, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), e as vendas de carros bicombustível (que consomem álcool e/ou gasolina) na casa dos 54%, é natural a preocupação nacional com a variação dos preços dos combustíveis. Assim, talvez não haja momento melhor para o governo colocar em prática, no momento correto, o sistema do warrantagem, que tem dotação orçamentária de R$ 500 milhões, o suficiente para meio mês de consumo.
Para Carvalho, o preço do álcool não ultrapassa 70% do valor da gasolina. O preço de piso, segundo ele, estaria vinculado ao mercado internacional, incluindo as cotações do açúcar. “Mas os preços poderiam ganhar mais referência por meio de contratos na BM&F”, diz.
Segundo Schouchana, a BM&F movimenta anualmente entre 1,5 bilhão e 2 bilhões de litros de álcool anidro, o equivalente a quase um terço da produção. Mas a bolsa poderia movimentar volumes maiores, “principalmente com políticas públicas para reduzir a volatilidade dos preços”, afirma Carvalho. “Os produtores precisam de um estoque de passagem, mas os recursos dificilmente saem com regularidade”, constata Schouchana.
O Brasil deve produzir 15,1 bilhões de litros de álcool na safra 2005/06. O mercado interno deve consumir 13,1 bilhões de litros e deverão ser exportados 1,8 bilhão de litros, prevê a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Os estoques, ao final da safra atual, serão de 459 milhões de litros, caso o consumo interno permaneça estável.
kicker: Setor quer garantir confiabilidade do álcool, na medida em que crescem as vendas de veículos bicombustíveis