Milhares de produtores de beterraba da União Européia protestaram nesta segunda-feira contra os planos de reforma pelo bloco nas políticas para o setor de açúcar. Os produtores afirmam que as reduções drásticas que estão sendo propostas irão forçá-los a deixar o negócio.
Os produtores bloquearam ruas com tratores na parte de Bruxelas que acomoda os escritórios da UE. O protesto ocorreu em frente ao local onde seria realizado um encontro de ministros da UE para discutir a revisão do regime de açúcar do bloco, que praticamente não sofreu alterações desde o final de 1960. Um acordo sobre a reforma não é esperado antes de novembro. “Destruição é o meu hobby”, dizia um cartaz exibido por produtores da Polônia que mostrava a caricatura de beterrabas fugindo da Comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, que aparece segurando um maçarico.
Um dos tratores tinha beterrabas para produção de açúcar que formavam um crucifixo, enquanto outros manifestantes estavam vestidos de beterraba.
Boel divulgou o plano de reforma no mês passado.
A proposta prevê cortes significativos no preço mínimo do açúcar e nos preços da beterraba, além de reduções nas cotas de produção.
Produtores de beterraba afirmam que se adotado, o plano iria tirar de atividade 120 mil produtores em dois anos e gerar a perda de 150 mil empregos ligados direta ou indiretamente à indústria de açúcar.
“Hoje há mais votos a favor do que contra a proposta. Acho que todos no final do dia estarão interessados em encontrar um resultado apropriado”, disse Boel em uma coletiva de imprensa no fim do encontro de ministros. A comissária disse não ter dúvidas de que um acordo será alcançado, já que a atual política de açúcar acaba em junho do ano que vem.
Com alguma reserva, a Alemanha e a Grã-Bretanha — membros com voto influente –são amplamente a favor da proposta.
Para o protesto, que foi observado por vários ministros da UE que iriam participar do debate neste segunda-feira, foram convocados cerca de 6.500 produtores.
A beterraba para produção de açúcar é cultivada por mais de 325 mil produtores do bloco, com exceção do Chipre, Estônia, Luxemburgo e Malta.
A Polônia abriga 89 mil produtores, e a Alemanha fica em segundo lugar, com 48 mil produtores.
“É uma reforma radical, mas precisamos mais dela do que de modernização”, declarou à Reuters a ministra da Agricultura da Suécia, Ann-Christin Nykvist, perto do local de protesto.
“Eles (produtores suecos) não concordam comigo. Tento deixar claro que eles terão uma boa rentabilidade e iremos continuar a ter produção de beterraba, especialmente no Sul.”
Enquanto há muito ceticismo entre governos da UE sobre o plano de reforma, vários países diminuíram a oposição, e outros países céticos estão começando a identificar áreas onde um acordo é possível.
BRASIL É O VILÃO
Além do medo de sair do negócio, produtores de beterraba do bloco europeu e a indústria processadora de açúcar estão preocupados com a possibilidade de uma “invasão” do açúcar barato do Brasil, maior produtor mundial de açúcar.
O problema principal, dizem eles, é que o plano de Boel não limita os chamados negócios triangulares.
Esta prática está relacionada à iniciativa Tudo Menos Armas (EBA, Everything But Arms) da UE, segundo à qual países em desenvolvimento podem exportar açúcar para os mercados do bloco sem taxas ou cotas a partir de 2009.
Na teoria, não há nada que impeça países como Bangladesh, Madagascar e Etiópia de exportarem toda sua produção de açúcar para a Europa graças à EBA por um preço mais alto do que o praticado no mercado mundial, e então comprarem o que precisam do Brasil.
Produtores de açúcar da UE dizem que a proposta de reforma é um “cavalo de Tróia” por permitir que o Brasil “invada” o mercado europeu enquanto dezenas de empresas da UE podem “quebrar” devido aos preços amplamente baixos.