Os ministros de Agricultura da União Européia (UE) irão enfrentar na próxima semana milhares de produtores de beterraba protestando contra os planos de reforma que, segundo eles, causarão desemprego e encherão a Europa com o açúcar mais barato do Brasil.
Cerca de 6.500 produtores de beterraba de 21 países estão prontos para ir a Bruxelas na segunda-feira, quando ministros terão o primeiro debate sobre a proposta de reforma radical do setor, que prevê forte redução no preço mínimo do açúcar e da beterraba.
“A proposta de açúcar ameaça a existência do cultivo europeu de beterraba. Isso beneficiaria apenas o Brasil e os traders internacionais”, afirmou o presidente da Confederação Internacional dos Produtores de Beterraba (CIBE), Otto von Arnold.
A confederação estima que a reforma desempregaria 120 mil produtores em dois anos e causaria a perda de 150 mil postos de trabalho direto ou indiretamente ligados à indústria açucareira.
A beterraba é cultivada por mais de 325 mil produtores em todos os 25 países da UE, exceto Chipre, Estônia, Luxemburgo e Malta. A Polônia, com 89 mil produtores, tem o maior número de pessoas nesse setor agrícola. A Alemanha está em segundo lugar, com 48 mil.
Enquanto os planos da reforma oferecem aos produtores compensação de 60 por cento para perda de receita, a CIBE disse que isso não é suficiente para compensar o grande corte nos preços –uma redução cumulativa de 42,5 por cento está prevista para os preços mínimos da beterraba em dois anos.
“Aqueles que morrerão são os mais fracos, essa é a lógica da proposta da Comissão”, disse o secretário-geral da CIBE, Hubert Chavanes, em uma coletiva de imprensa.
“Produtores irão parar (de cultivar beterraba) em todos os países, até nos mais produtivos. Todos irão sofrer”, ele disse.
MEDO DO BRASIL
Um problema maior que ainda não foi considerado é o fluxo potencial das importações mais baratas do Brasil, já que o plano não limita permuta, também conhecido como comércio triangular, apontou a CIBE.
Essa prática está ligada à iniciativa de um projeto do bloco europeu, no qual os países do Terceiro Mundo podem exportar açúcar aos mercados da UE sem tarifas ou quotas a partir de 2009.
Na teoria, não há nada para fazer com que países como Bangladesh, Madagascar e Etiópia parem de exportar toda sua produção de açúcar à Europa, com preços acima do mercado mundial, e abasteçam a demanda doméstica com produtos do Brasil, de acordo com esse projeto.
“Normalmente é usado por traders internacionais. Achamos que poderá ser muito perigoso não lidar com essa questão”, afirmou von Arnold. “Vimos isso há alguns anos nas ex-repúblicas da Iugoslávia… isso torna o mercado europeu muito mais instável.”
No início desta semana, a organização das indústrias de açúcar da UE advertiu sobre os riscos do comércio triangular, alegando que os planos de reforma eram de má fé ao permitir o fluxo de açúcar do Brasil enquanto dezenas de indústrias européias estavam falindo.