Compradores suspendem a negociação. Multa de ICMS pode atrapalhar acordo. Há cerca de dois meses, a multinacional americana Cargill anunciou com estardalhaço um entendimento para compra da Açucareira Corona, em uma joint venture com a Crystalsev e a trading Fluxo S.A. O negócio, que marcaria a estréia da Cargill no segmento de açúcar e álcool, agora dá sinais de desgaste.
O repentino desinteresse teria sido causado por uma multa de R$ 103 milhões aplicada há duas semanas pela Delegacia Regional Tributária de Ribeirão Preto. A multa refere-se ao não recolhimento de ICMS. Auditores da delegacia estão em regime permanente instalados na Açucareira Corona, localizada em Guariba (SP). A multa de R$ 103 milhões é considerada um obstáculo considerável. Afinal, a compra da usina Corona estava avaliada em R$ 150 milhões.
Assim, o negócio, que deveria ser oficialmente assinado em julho, “foi temporariamente suspenso em razão de viagem dos executivos envolvidos”, afirmou Maurilio Biagi Filho, conselheiro da Crystalsev. Os executivos, conforme admitiu Biagi Filho, estão em férias, e não em viagem de trabalho.
A Cargill informa que não se pronunciará sobre o assunto, porém em uma atitude inesperada retirou o anúncio da compra da Açucareira Corona de seu website brasileiro. A Corona e a Fluxo não retornaram as ligações.
Biagi Filho afirma que as conversas devem ser retomadas em agosto, mas, quando perguntado se a compra da usina Corona deve se concretizar no próximo mês, o executivo se limitou a dizer que “nenhum contrato foi assinado e sempre há o risco de que não seja fechado”.
De acordo com fonte envolvida nas negociações, a Crystalsev teria sido a primeira a mostrar desinteresse no negócio, o que Biagi Filho nega. “Temos interesse, porém precisamos de mais tempo”, afirma.
A Cargill, por sua vez, estaria em uma posição frágil, já que não tem “expertise” que a Crystalsev tem no negócio de açúcar e álcool. Para a multinacional americana, encontrar outro sócio com a credibilidade e afinidade que tinha com a Crystalsev – ambas são sócias em um terminal e em projeto de uma usina de álcool no Caribe – também não seria tarefa fácil. “A Cargill tem o dinheiro e precisa de um sócio operacional, que entenda da operação”, diz uma fonte. A Fluxo não administra nenhuma usina.
De acordo com o modelo que vinha sendo discutido entre as partes, a Cargill teria o equivalente a cerca de 50% do negócio, enquanto Crystalsev e Fluxo ficariam com 25% cada.
A namoro entre a Açucareira Corona e a joint venture das três empresas começou em setembro do ano passado, por iniciativa dos compradores, já que a usina não estava à venda. Cargill e Crystalsev, contactaram a Fluxo – trading que é a maior compradora de açúcar da Corona – e firmaram a parceria.
A Açucareira Corona é dona da Usina Bonfim, em Guariba (SP) e da Usina Tamoio, em Araraquara (SP), e tem capacidade total de processar 6 milhões de toneladas de cana. O negócio também envolveria compra e arrendamento de longo prazo de parte das terras da Corona. “É uma usina que está pronta para voltar à liderança do mercado, seja em processamento de cana ou em resultado financeiro. Ela tem localização excepcional e terras de ótima qualidade. Acredito que o negócio saia mesmo que um dos interessados desista”, diz uma fonte.