A intenção da Cosan de aumentar os investimentos no mercado de gás natural vai além do interesse em adquirir novas distribuidoras. Enquanto estuda a separação do negócio a partir da criação de uma nova companhia, a Distribuição de Gás Participações, que controlará a Comgás e será responsável por investimentos futuros no setor, a Cosan avalia entrar também em projetos de infraestrutura de escoamento e já costura internamente um investimento num gasoduto para transportar o gás do pré-sal até São Paulo.
O projeto ainda dá seus primeiros passos e é mantido em sigilo pela empresa. O Valor apurou, contudo, que a Cosan, através da Rumo Logística, já deu entrada no processo de licenciamento do empreendimento no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O gasoduto foi registrado como Sistema de Escoamento e Tratamento de Gás Natural do Polo Pré-Sal da Bacia de Santos, mas vem sendo batizado informalmente no mercado como Rota 4.
De acordo com o secretário de Energia de São Paulo, Marco Antonio Mroz, a empresa está procurando parceiros interessados em formar consórcio, inclusive grandes consumidores. “Existe a possibilidade de grandes consumidores investirem no gasoduto”, informou o secretário.
A estimativa, segundo Mroz, é que o gasoduto exija investimentos da ordem de R$ 6 bilhões e tenha capacidade para escoar cerca de 15 milhões de metros cúbicos diários de gás. O objetivo é atender às necessidades de petroleiras que, sem infraestrutura própria, ainda não possuem planos de monetização para suas futuras produções. A iniciativa possibilitaria a entrada de novos fornecedores num mercado dominado pela Petrobras.
De acordo com estudo da EY (ex-Ernst & Young), em parceria com a Gas Energy, o mercado deve se tornar menos concentrado até 2020, quando a participação da Petrobras na oferta nacional de gás deve atingir os 75%. Atualmente, esse percentual é superior a 90%, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A expectativa da EY/Gas Energy é que os produtores privados que atuam no pré-sal, como Shell, Total, Repsol Sinopec e Petrogal, disponibilizem ao mercado cerca de 20 milhões de m3 /dia em 2020 – volume suficiente para mais que dobrar o atual mercado paulista de gás natural. Sem gasodutos próprios, essas empresas comercializam atualmente seus respectivos volumes de gás com a Petrobras.
“Acreditamos que haja espaço para a entrada de novos players no mercado. Há uma demanda latente que ainda não desenvolvemos. O consumo de gás na indústria está estagnado há sete anos. A indústria não tem acesso a novos volumes de gás e há uma enorme capacidade do mercado para absorver esse gás novo”, analisa o consultor Marco Tavares, da Gas Energy.
Segundo Carlos Assis, sócio-líder do Centro de Energia e Recursos Naturais da EY, já existem investidores estrangeiros interessados no mercado brasileiro de gás, mas a entrada desses agentes depende de avanços regulatórios.
“Essa movimentação só vai ocorrer a medida em que a questão regulatória for sendo clareada e haja um direcionamento da política energética para o gás. O Brasil tem atributos favoráveis para um cenário de competição. Comparado a outros países produtores, temos uma democracia estável, instituições sólidas, uma economia relativamente estável, potencial de crescimento no mercado interno. Se destravarmos nosso mercado, vamos alavancar o potencial do gás natural no país”, opinou Assis.
A entrada de novos investidores na construção de gasodutos, contudo, não é tarefa das mais simples. A iniciativa da Cosan em torno do Rota 4 não é a primeira tentativa de se tentar viabilizar um gasoduto de escoamento dos novos produtores do pré-sal.
O projeto chegou a entrar na pauta das petroleiras, mas não avançou diante das dificuldades inerentes. “Houve algumas conversas preliminares entre algumas empresas, mas não avançou. Há dificuldades muito grandes para viabilizar o projeto. Além do grande custo para instalação desse gasoduto, há uma grande dificuldade com o timing do desenvolvimento dos projetos. Muitas vezes não há o casamento da entrada em operação deles e, com capacidade ociosa, compromete-se a viabilidade do investimento e amortização do gasoduto”, comenta um executivo de uma petroleira multinacional.
A fonte comenta, ainda, que as distâncias entre os campos do pré-sal são muito grandes, às vezes superiores a 100 quilômetros, o que traz custos impeditivos para o projeto.
Mesmo assim, os investimentos privados em infraestrutura no mercado de gás começam a dar seus primeiros passos no país. A Excelerate Energy, por exemplo, tem um pré-acordo com o grupo Bolognesi para construção de dois terminais de regaseificação (que convertem gás natural liquefeito em gás natural), nos portos de Suape (PE) e Rio Grande (RS).
Para estimular a entrada dos novos “players” na comercialização do gás, o governo de São Paulo quer criar demanda e, para isso, vai propor que as três distribuidoras de gás natural do estado (Comgás, Gas Natural Fenosa e Gas Brasiliano) invistam cerca de R$ 6 bilhões na expansão da rede ao longo dos próximos cinco anos. A proposta ainda será avaliada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), durante os processos de revisão tarifária das concessionárias, previstos para serem concluídos em 2015.
(Fonte: Valor Econômico)