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Opinião: Etanol - matriz energética

Armazenagem de etanol: exportação avança em março
Armazenagem de etanol: exportação avança em março

O competente ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que atualmente exerce a presidência do Conselho da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), fez no Estadão de 14 de dezembro de 2014 um desabafo: “Precisamos entender qual a matriz energética que o Brasil quer ter. O governo tem de definir qual é”.

Com dezenas de usinas fechadas ou funcionando precariamente e outras com graves problemas financeiros, entendo que, com justa razão, a paciência do ex-ministro está atingindo o limite. Tudo por causa da política energética do governo, imediatista, populista, equivocada e danosa para o País.

Como um dos principais responsáveis pelo setor energético durante cerca de duas décadas, exatamente quando o mundo, particularmente o Brasil, enfrentou duas grandes crises, vou sintetizar a matriz que adotamos na época, porque, até agora, não houve resposta ao questionamento do presidente da Unica.

Posso falar por experiência vivida. Cheguei a comprar uma carga de petróleo por US$ 2 milhões, como diretor da Petrobrás (1970); a mesma carga por US$ 24 milhões, como ministro de Energia (1974); e por US$ 64 milhões, como presidente da Petrobrás (1979).

Há um ano, ela custava US$ 200 milhões e, hoje, com a baixa do preço, custa US$ 120 milhões. Quanto custará nos próximos anos?

Por causa da grande volatilidade do mercado, do alto custo e da insegurança, julgo que as prioridades que estabelecemos naquela época continuam válidas. Essas prioridades são:

Economia de divisas,

segurança de suprimento,

modicidade de tarifas e preços

e menor impacto ambiental.

Não é difícil de justificar essas quatro prioridades. Vejamos: o Brasil registra hoje um déficit cambial de US$ 85 bilhões/ano. Temos uma medalha de bronze negativa. Os Estados Unidos têm de ouro e a Inglaterra tem de prata. Entretanto, ambos podem imprimir impunemente as suas moedas e manter a taxa de juros próxima de zero. E nós? Temos ou não temos de levantar a bandeira vermelha? Importar gasolina e etanol, deixando de produzir etanol no País? Importar gás natural para gerar energia elétrica, quando temos bagaço de cana disponível, além de carvão mineral nacional, biomateriais e energia nuclear, entre outras fontes? Faz sentido em termos cambiais, ou de segurança, ou de modicidade de preços e tarifas?

Enquanto formos devedores líquidos em divisas, e se não quisermos onerar gerações futuras, temos de somar, além dos custos diretos, os juros sobre os débitos que temos de pagar até nos tornarmos credores. Quanto vai custar, afinal, um metro cúbico de gasolina/etanol/gás natural importado?

É possível que em 2014 a conta de energia (petróleo, derivados, etanol, gás natural) tenha sido negativa em, aproximadamente, US$ 20 bilhões. Se acrescentarmos os aluguéis de plataformas, navios, sondas, etc., além do custo de milhares de profissionais estrangeiros contratados, a conta final deve ultrapassar US$ 40 bilhões por ano.

Ora, professor Roberto Rodrigues, o seu setor de cana-de-açúcar, sem engenharia ou mão de obra estrangeiras e operando com apenas alguns insumos que ainda importamos, processa de 600 milhões a 700 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, transformadas em etanol, açúcar, eletricidade, além de sucroquímicos.

Dependendo do critério de cálculo que for adotado, o seu setor deve proporcionar ao Brasil uma economia de divisas superior a US$ 100 bilhões.

A sua luta é boa, professor. Tenho a certeza de que vencerá. Ou será que teremos de ir às ruas para que as autoridades do setor respondam ao seu questionamento?

(Fonte: Shigeaki Ueki –  Estado de S.Paulo)