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EUA estão perto de bater o Brasil em etanol

Alta de 40% nos preços do petróleo estimulam a maior produção de álcool combustível. O milho é a principal matéria-prima na produção de etanol nos EUA. Cerca de 9% da produção de milho tem como destino as usinas de etanol.

A disparada dos preços internacionais do petróleo, que subiram 40% neste ano, e a pressão para se ampliar a utilização de combustíveis renováveis desencadearam uma verdadeira “febre do etanol” nos Estados Unidos. Em uma viagem de carro pelas principias áreas produtoras de milho não é difícil se deparar com as chaminés e as imensas caldeiras de fermentação características das usinas. O país, que já conta com 83 plantas em operação e outras 14 em construção, deve encerrar este ano com uma produção de quase 14,2 bilhões de litros, 17% superior à obtida no ano passado.

Quando a Associação dos Produtores de Milho da Dakota do Sul (EUA) anunciou o início das vendas de cotas para financiar a construção de uma usina de etanol de milho, os telefones de sua sede no condado de Sioux Falls não pararam de tocar. “Levantamos o capital necessário (US$ 40 milhões) em apenas cinco dias. Há sete anos, quando construímos a primeira usina, foram necessários seis meses para convencer os investidores”, afirma Teddi Mueller, diretora de assuntos corporativos da entidade. “Ao contrário de anos anteriores, a venda de cotas foi capaz de atrair não apenas agricultores, mas também médicos, advogados e pequenos comerciantes dispostos a correr o risco de investir em um negócio sólido de retorno relativamente rápido”.

“Creio que a sede de investimento ganhou corpo no ano passado, quando tivemos que importar etanol do Brasil e tomamos mais consciência da nossa vulnerabilidade nesse campo”, diz Brent Erickson, presidente da Organização da Indústria de Biotecnologia, que representa 1,1 mil empresas e centros de pesquisa. De acordo com ele, o milho não será capaz de atender sozinho à futura demanda por etanol. Por isso, a indústria estuda a viabilidade de se produzir etanol de cevada e até da palha de trigo.

Brian Woldt exibe orgulho ao conduzir um tour pelas dependências da Dakota Ethanol, uma das primeiras usinas do estado. “As pessoas achavam que eu era louco de correr o risco. Mas agora são eles que estão loucos para entrar no negócio”, diz ele. Tanto interesse pode ser medido em números. A usina foi construída em 1999 e em cerca de três anos Woldt recuperou o capital investido.

Enquanto a lei federal dos combustíveis renováveis não for aprovada, os EUA contam com leis estaduais e às vezes municipais para regulamentar o percentual de etanol aceito na mistura. Na maioria dos postos de gasolina do Meio-Oeste americano, é possível abastecer com 100% de gasolina, com a mistura E-10 (10% de etanol) ou E-85 (85% de etanol). Os carros não necessitam de nenhuma modificação para utilizar combustível E-10, porém somente os modelos mais novos, como a Ford Ranger do agricultor Paul Schubeck, aceitam a mistura E-85.

Schubeck é um genuíno entusiasta do etanol de milho. Ele tem cotas de participação em cinco usinas que juntas produzem perto de 760 milhões de litros de etanol. Além disso, 100% de sua produção de milho, cultivada em 500 acres no condado de Lincoln, é entregue para uma usina em um caminhão dirigido por ele mesmo. “O retorno do investimento na primeira usina foi tão bom que usei os dividendos para comprar cotas nas outras usinas”, diz. Cada cota custa em média US$ 2,5 mil e são necessários de 500 a 900 investidores para viabilizar a construção de uma planta. Schubeck calcula rentabilidade do investimento é próxima de 25% ao ano. Com os baixos juros americanos, o retorno de dois dígitos é uma oportunidade para quem está disposto a correr riscos.

Hoje as usinas de etanol de milho enfrentam dois grandes desafios. O primeiro é aumentar a eficiência na extração do etanol e, desta forma, sua competitivade em relação ao petróleo. Apesar dos historicamente elevados preços da gasolina, o etanol ainda precisa de subsídios para estar no mercado. Hoje as usinas tem isenção fiscal, correspondente a US$ 0,31 por litro.

O segundo desafio é aprimorar as características do subproduto, o “distillers dried grains with solubles”, ou DDGS, vendido para o mercado como ração, mais adequada a vacas leiteiras que a frangos ou suínos. O objetivo do setor é oferecer uma alternativa mais barata ao farelo de soja. Uma tonelada de farelo custa US$ 220, praticamente o dobro do subproduto da produção de etanol, porém o DDGS é pobre em proteína: tem 25%, enquanto o farelo é proteína pura. Ao contrário do farelo -transportado a granel -, o DDGS é despachado em contâineres para evitar que se transforme em pedra antes de chegar ao seu destino final.